Aquele da Enterrada


O lance de Jordan Crawford, armador da Universidade Xavier, em cima do LeBron James é um exemplo claro do que a palavra viral significa: foi só o vídeo da enterrada dele - que aconteceu num campo de treinamento organizado pelo atual MVP da NBA - chegar no YouTube e o então desconhecido jogador ganhou notoriedade perante aqueles que não acompanham fielmente a NCAA.

Crawford reconhece que toda a situação – tentativa da Nike em confiscar a gravação (muitos dizem que tal atitude partiu de LBJ) – e a empolgação criada em volta da enterrada foi um exagero. Em entrevista para a ESPN, Jordan disse: “Na hora eu fiquei bem empolgado, mas a mídia repercutiu a coisa como se fosse uma super jogada... Eu sabia que não tinha sido nada disto”.

Não importa. O ponto central é que isto ajudou o armador que tinha, a partir de então, a meta de deixar de ser “o-garoto-que-enterrou-no-LeBron-James” para ser um jogador com potencial em participar da NBA. Este próximo mês de Março será a vez da mídia noticiar as habilidades dele, com sua universidade podendo fazer uma boa campanha no torneio da NCAA.

A Conferência Atlantic-10 está surpreendentemente sendo uma das mais disputadas e, segundo o especialista da CBS Jerry Palm, pode colocar 6 equipes no torneio – ficando atrás apenas das poderosas ACC, Big 12 e Big East: 7 cada. Com a mais recente vitória sobre Saint Louis, Xavier divide a liderança com Richmond e Temple e vai brigar diretamente pelo título da A-10. Grande parte deste sucesso pode ser creditado à Crawford, corroborando o esforço feito por Xavier em pegar o garoto que desistia da carreira na Universidade de Indiana.


Lá Crawford era conhecido por ser o reserva de Eric Gordon (hoje no Los Angeles Clippers). Em sua temporada de novato, Jordan foi o sexto homem do time e terminou a temporada com quase 10 PPJ. Os Hoosiers apostavam alto no menino de Detroit, mesmo ele não recebendo muitas ofertas de bolsas quando saiu do High School (ensino médio) – só Indiana ofereceu uma oportunidade. Porém a universidade sofreu sanções da NCAA (em 2008) por cometer irregularidades no recrutamento e o que se viu foi uma debandada geral dos atletas; e Crawford estava entre estes.

Mas sua cotação agora era outra. Foram várias as universidades que estavam dispostas em contar com o jogo dele. Xavier foi a escolhida pela promessa de fazer o time ser construído em volta do talentoso armador. A estréia, contudo, sofreria um hiato de uma temporada (2008-09) porque devido a regras da NCAA, um jogador deve se ausentar um campeonato quando muda de universidade.

Mesmo sem atuar por um ano, Crawford manteve seu nome forte entre os bastidores do basquete e por isso que recebeu o convite para participar do campo de treinamento do LBJ em 2009, junto com estrelas da NCCA como Cole Aldrich (Kansas), Kalin Lucas (Michigan State), Devin Ebanks (West Virginia)... Aí aconteceu o lance. Ao comentar a jogada, Crawford pondera que a enterrada foi logo no início das atividades e que vários outros jogos ocorreram depois.

Ele estava lá para aprimorar sua seleção de arremessos e ser mais distribuidor na quadra. Fominha: o rótulo que ele sempre teve.


Nos 27 jogos dos Musketeers (até 26/02) Crawford (foto acima) tentou 423 arremessos e o segundo colocado na equipe, Jason Love, 206... No começo da temporada, os jogadores do elenco diziam que a jogada terminava quando a bola chegava às mãos de Crawford, deixando o treinador Chris Mack enfurecido com os desperdícios dos eternos 35 segundos de posse de bola.

Ao passar do tempo, as péssimas decisões de arremessos diminuíram e o tag que grudava nele estava desaparecendo, surgindo outra definição: eficiente. Os 20 PPJ dele é igual a marca do David West em 2002-03, quando o ex-aluno de Xavier recebeu considerações de melhor jogador do campeonato. A temporada 2009-10 tem nomes da elite como John Wall (Kentucky), Evan Turner (Ohio State) e Wesley Johnson (Syracuse) que ofuscam Jordan Crawford; fazendo asssim depender de uma boa campanha no torneio para melhorar seu status.

Conforme for, ele pode até arriscar e ir para o Draft deste ano. Suas habilidades se adaptam ao jogo profissional; basta ele se adaptar ao jogo profissional. A enterrada lhe ajudou no quesito popularidade, mas mostrou ao público (e aos olheiros da NBA) uma característica que não é a sua principal: jogar na altura do aro. Crawford é mais um arremessador que joga em volta do garrafão e não um cara que frquentemente ataca a cesta com agressividade. Daí a importância do torneio deste ano, onde os olhos do mundo do basquete estarão voltados para a NCAA e ele poderá mostra sua evolução.

O mix de irrelevância com fama revigora Jordan Crawford a seguir em frente e mostrar em quadra seu real talento. Na primeira temporada em três anos que ele tem condições de liderar um time, é nítido afirmar que o armador tem o seu valor. Vale prestar atenção em Xavier e no seu principal cestinha, porque futuramente ele será lembrado por ser mais do que “aquele da enterrada”.



(GL)



© 1 Gregory Shamus / Getty Images
© 2 Jeff Swinger / The Enquirer

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Esta foi a quantidade de pontos, assistências e rebotes que Jonathan Bender, ala do New York Knicks, conseguiu no jogo de ontem contra o Boston Celtics. Ele nem entrou em quadra por decisão do treinador Mike D´Antoni, que procura poupar o máximo um jogador que chegou à NBA como um grande talento e hoje está feliz por ter ganhado uma segunda oportunidade após sofrer anos com seus problemáticos joelhos sem cartilagem.

O responsável por trazer Bender de volta à NBA chama-se Donnie Walsh, diretor de basquete (GM) da franquia. Ele estava na direção do Indiana Pacers em 1999 quando o clube fez uma troca por Bender (5ª escolha) na noite do draft daquele ano com o Toronto Raptors. Walsh admirava o talentoso atleta que vinha direto do High School (ensino médio), mas já mostrava uma habilidade ímpar. No famoso jogo das estrelas do HS – McDonald´s All American –, que ele jogou em ´99, foi o cestinha da partida com 31 pontos, maior marca até hoje; o segundo colocado é Michael Jordan, com 30 pontos em 1981.

Bender teve dificuldades no profissional, apesar de fazer a melhor estréia de um garoto vindo do HS (10 pontos em 13 minutos contra o Cleveland Cavaliers – 10/12/1999). Ele era um adolescente num jogo de homens e só depois de quatro temporadas seria possível ver o quanto ele poderia render para os Pacers. A temporada 2001-02, sua terceira, foi a que ele teve melhor produtividade até então, jogando 21 minutos por media e sendo titular em 17 das 78 partidas que jogou. O provável crescimento e desenvolvimento de suas habilidades interessaram mais ainda Walsh, que ofereceu um contrato de 4 anos no valor de 28 milhões de dólares para o garoto.

Contudo o crescimento e desenvolvimento do seu corpo iriam surpreender negativamente os Pacers.


Na temporada seguinte, sua participação diminuiu porque os problemas nos joelhos começaram a aparecer, resultado do veloz crescimento das pernas em um curto espaço de tempo. Bender não chegou fisicamente pronto na associação e a estrutura do seu corpo não acompanhou o trabalho feito para aguentar os trancos diários na NBA. Ele passou quatro temporadas lidando com este problema, até se despedir do basquete em 2006.

Especificamente, de forma bastante simples, sua lesão é causada pela quantidade zero de cartilagem nos joelhos, o que os médicos americanos chamam de doença “osso com osso” (artrose), por que é isto que acontece.

Foram inúmeras cirurgias, porém o processo de recuperação é longo e demorado; isto quando se tem alguma esperança de sucesso. Por mais eficiente que sejam as operações médicas, os joelhos nunca mais serão os mesmos, principalmente para um esportista. Sabendo disto, Bender resolveu seguir em frente com seus projetos pessoais.

Ele tem uma mente empreendedora e executa os mais loucos projetos e idéias. Contudo, o seu trabalho mais eficiente é sério e inspirador. A Jonathan Bender Foudation, organização sem fins lucrativos criada em New Orleans, visa ajudar crianças carentes e reconstruir a cidade do devastador furacão Katrina. Uma escola foi adotada por ele, ajudando a por de pé a biblioteca destruída pela fúria dos ventos – ampliando-a e colocando mais livros disponíveis – e novos computadores foram instalados para os alunos. Bender também pegou 36 famílias de baixa renda, que tiveram suas casas destroçadas pelo Katrina, e as colocou em apartamentos confortáveis e de boa qualidade.

Nestas idas e vindas, Bender não esqueceu Indiana e ia para lá frequentemente arrecadar dinheiro para sua fundação. Ao encontrar seus antigos companheiros, ele dizia que estava bem e continuava treinando para não perder a forma. Estas e outras conversas chegavam aos ouvidos de Walsh, mas nada passava disto.

Já com os Knicks, Walsh esteve presente no ano passado em um torneio de basquete no estado da Califórnia. Lá também estava o empresário de Bender, que comunicou ao dirigente que seu atleta estava pensando seriamente em voltar a jogar. Walsh pediu que Bender ligasse para ele quando estivesse pronto. Numa conversa posterior, Bender afirmou que voltaria, mas só com 120% em forma. Walsh disse que quando ele chegasse a este ponto, poderia entrar em contato.


No dia 13 de Dezembro de 2009, Bender assinou com o NY Knicks.

Isto só aconteceu porque Walsh assumiu a responsabilidade. Quando estava em Indiana, ele afirmava constantemente que Bender era um dos melhores talentos que a franquia já teve. Porém ele não passou a etapa da “promessa” e provavelmente não passará. Os problemas nos joelhos diminuíram, mas ainda existem. A orientação é que ele descanse quando qualquer mínima dor surgir e que prontamente informe o departamento médico.

Em 21 jogos em NY, Bender tem uma média de pontos por jogo de 4.8. Ele teve algumas boas atuações nesta nova fase, anotando 11 pontos em 15 minutos contra Charlotte, 16 pontos em 30 minutos contra o Oklahoma City, 14 pontos em 12 minutos contra Minnesota... Mesmo tendo um estilo de jogo que se adapta a filosofia de D´Antoni, Bender não deverá ter muita participação nas partidas daqui pra frente e deve ser usado mais como um elemento surpresa.

O importante de tudo é que Walsh deu uma nova chance e Bender aceitou, não fugindo do novo e perigoso desafio que enfrentaria. O risco de agravar os já desgastados joelhos aumenta com o esforço, mas ele já provou estar disposto a se entregar e dar o seu melhor nos poucos minutos que estiver em quadra.

Esta promessa ele está cumprindo.



(GL)


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© 2 JBF Gallery

Transferência de Responsabilidade


Dan Gilbert e Danny Ferry, respectivamente dono e diretor de basquete do Cleveland Cavaliers, estão fazendo de tudo para entregar à Mike Brown (treinador) o melhor elenco possível para que a franquia conquiste o título da NBA. A contratação de Antawn Jamison (foto acima) é a mais recente aposta e a equipe está reforçada com bons jogadores em todas as posições, sejam reservas ou titulares.

A diretoria dos Cavs sempre foi questionada sobre quem seriam os coadjuvantes que auxiliariam o LeBron James no caminho das finais. Ao longo dos últimos anos, Ferry tem feito boas transações, trazendo Shaquille O´Neal e Mo Williams, perdendo apenas nomes como Damon Jones, Sasha Pavlovic e Ben Wallace. Especificamente com Jamison, que estava no Washington Wizards, a situação foi similar.

O time tava à procura de um veterano ala-pivô, de forte presença no garrafão e bom arremesso. A primeira opção era Amar´e Stoudemire do Phoenix Suns que em tese seria uma boa contratação. Duas coisas penderam para a não concretização deste negócio: a lembrança da baixa produtividade de Amar´e junto com O´Neal quando eles estavam em Phoenix e a necessidade dos Cavs em ceder J.J. Hickson para completar a troca. Assim sendo, Cleveland partiu para o plano B.

Porém a meta ainda era um ala-pivô que pudesse trazer um jogo de alto nível e impedir as marcações duplas em O´Neal e LeBron, jogando entre as duas estrelas. Jamison é uma boa peça neste sentido, pois tem um bom arremesso de média distância e ainda pode pegar 10 rebotes por jogo. Sem ceder muito para os Wizards – Zydrunas Ilgauskas e uma escolha de primeira rodada do draft de 2010 –, os Cavs trouxeram Jamison e a diretoria dispôs para sua comissão técnica um elenco com toda a capacidade de ganhar o troféu Larry O´Brien.

Agora é com Mike Brown (foto abaixo), atual vencedor do prêmio de melhor treinador da associação.


Uma das primeiras missões dele é definir o papel de Jamison em sua equipe. O jogador formado em North Carolina – e um dos poucos com seu número aposentado (em 1998) pelos Tar Heels –, deve começar na reserva até pegar um bom entrosamento com o restante dos atletas. Nos dois primeiros jogos depois da troca, foram duas derrotas (contra o Charlotte Bobcats e Orlando Magic) e Jamison foi bem só contra os atuais campeões da Conferência Leste, marcando 19 pontos e pegando 8 rebotes. O chefe do time comentou, depois do jogo contra o Magic, sobre a atual situação do recém contratado.

Acredito que Antawn irá nos ajudar bastante, temos apenas que passar por este período de transição, procurando entender alguns dos seus movimentos e nos entrosando mais” disse LeBron James.

Vale ressaltar que Jamison já recebeu o prêmio de melhor reserva (temporada 2003-04) com o Dallas Mavericks. Aliás, esta foi a única vez que ele foi jogar os playoffs em seus 11 anos de NBA. Esta falta de experiência em pós-temporada é usada pelos críticos como o lado negativo da troca por Ilgauskas, assim como sua baixa produtividade na defesa. Aí é outra missão para Brown, reconhecido na associação pela sua filosofia defensiva; Cleveland é a terceira melhor defesa deste campeonato.

Um dos fatores que levaram os Cavs à derrota nas finas da Conferência Leste do ano passado foi não ter um jogador ágil para duelar com Rashard Lewis do Magic. No confronto de ontem, Jamison foi bem contra o ala (foto abaixo), mas os Cavs perderam em Orlando. Imaginando que ambas as equipes possam se encontrar novamente nos playoffs será interessante ver os contornos desta partida.


Fazendo uma projeção mais além – uma possível final da NBA contra os Los Angeles Lakers –, os Cavs podem levar certa desvantagem. As duas equipes se enfrentaram duas vezes nesta temporada e Cleveland venceu os dois jogos. O que confundiu bastante Andrew Bynum e Pau Gasol (pivôs dos Lakers) foi que Brown colocou O´Neal e Ilgauskas juntos em quadra, formação mais física que favoreceu positivamente Cleveland. Sem o lituano e com Jamison disponível, este será mais um desafio de Brown: moldar bem o time contra as principais forças da NBA.

O futuro de Brown depende desta temporada: se ganhar o campeonato, LeBron não sairá via agente-livre; caso contrário o melhor jogador da NBA deve deixar Cleveland e ir atrás de um time mais competitivo.

Por enquanto, dois jogos não são suficientes para se tirar conclusões definitivas sobre a real evolução dos Cavs com Jamison no elenco. O que Mike precisa fazer é formar um time competitivo com os ótimos atletas que a diretoria lhe entregou. Se o título não vier, qualquer outro feito será considerado um fracasso.



(GL)



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A Morte da Inês


Era uma vez...

Três reinos, dois reis e uma rainha.

Outrora viviam bem, até que desacordos entre eles resultaram num desastre. Inês, Dom Afonso e Dom Pedro eram unidos e tinham um bom relacionamento, porém discordâncias levaram a parte mais forte do trio evaporar.

Inês convivia bem com ambos, uma vida aristocrática regada de sucesso. Ela que administrava as finanças dos reis que dependiam um do outro; e consequentemente da rainha. Por anos a camaradagem e o bom senso dominavam os reinados, graças a acordos e contratos que todas as partes se responsabilizavam em cumprir. Quando um destes papéis abriu brecha para favorecimento de um especificamente, começou todo o imbróglio.

Uma condição estava para ser renovada, que determinava quanto Dom Afonso ganharia futuramente e abria a possibilidade de não haver mais limite para os recebimentos do seu ganho por parte do reino de Dom Pedro. Inês, por ser a mediadora e grande conselheira, não concordava com o posicionamento de Afonso, pois a sua exigência de não colocar mais limites afetaria diretamente ela e Pedro; além do fato deles quererem que Afonso cedesse algo também.

Afinal, desta forma que a boa vizinhança é possível: com todos os lados se entendendo, fazendo negociações para ninguém sair na vantagem.

Contudo tal atitude não ocorreu na ocasião.

Na anterior grande reunião entre os reis/rainha – determinando como seria a atividade econômica dos reinos –, quem levou uma ligeira e pequena vantagem foi Afonso. Não porque os representantes do rei se impuseram, mas sim por a equipe de Pedro ceder demais. Inês o lembrava constantemente sobre esta questão, pois no futuro isto podia lhe prejudicar.

Dom Afonso possuía bons homens em sua defesa, entretanto ele buscou se aprimorar mais e elegeu uma forte personalidade para advogar sua causa. Surgia então o que Inês premeditou.

Esta nova peça no jogo chegou dizendo logo de cara que iria defender os interesses de Afonso acima de qualquer coisa, atitude que poderia servir de intimidação para Pedro e para Inês, que poderiam ouvir, na renovação do acordo comercial, mais o lado dele do que os seus.

O que o trio sabia - porém não queria compreender -, é que um dependia necessariamente do outro. Não existia Inês sem Afonso, nem Afonso sem Pedro, nem Pedro sem Inês... Já diziam que o dinheiro fala mais alto e quando ele entrou na parada foi que o negócio degringolou.

Pedro queria taxar Afonso em 18% dos seus ganhos, o que Afonso prontamente negou aceitar e disse aos quatro cantos do por que: Pedro e Inês ganhavam absurdos e uma taxação desta era inaceitável – a crise econômica que atingia a região era a principal causa do alto tributo e da reclamação. Por essas e outras que Inês pendia para o lado de Pedro, pois ela sairia perdendo menos assim.

Aquela comoção esperada de Inês não aconteceu. O objetivo de Afonso era atrair para seu lado a rainha, tão importante e fundamental para o progresso de qualquer reinado. Como não conseguiu na primeira tentativa, ele resolveu tomar uma atitude radical: greve.

Afonso estava disposto a parar qualquer atividade econômica, cruzando os braços e esperando um posicionamento mais incisivo de ambos – principalmente de Inês. Ela não se compadeceu e ficou do lado de Pedro, já que desta forma ambos iam bem financeiramente sem Afonso na parada; além de poder utilizar pequenos feudos para auxiliarem na produção das riquezas.

O ciúme abateu Dom Afonso. Sendo o grande prejudicado por suas próprias atitudes, ele não admitia o fracasso e a rejeição, resolvendo agir de forma absurda e incoerente. Para Afonso a única solução era ameaçar matar Inês.

Ele não queria chegar às vias de fato, o objetivo era fazer que ela, junto com Pedro, aceitasse as condições impostas pelo seu reinado. Afonso, verdadeiramente, não suportava ver Pedro e Inês felizes, não suportava ver eles se dando bem sem sua presença, sem sua participação nos negócios. Ver pequenos e irrelevantes feudos ativos na economia local inflamava mais ainda o coração de Afonso.

Apesar de estarem bem, Inês e Pedro não eram os mesmos sem Afonso. Perder um reinado forte e imponente fez com que os lucros caíssem. Só que eles estavam melhor sem as atitudes insensatas e imponderáveis do Dom. Por mais imprevisível que fosse, ninguém esperava que Afonso agisse de forma brutal.

Fora de si, Afonso resolveu levar a ameaça adiante. A região ficou perplexa ao saber que Inês tinha sido assassinada. Sem pensar duas vezes, Afonso concretizou o maléfico plano. Assim morria também seu reinado, o reino de Dom Pedro, os pequenos feudos... Não demorou muito para perceber o quanto ela era importante para todos, trazendo Afonso e Pedro a pensamentos de arrependimento do tipo: “E se eu tivesse sido mais flexível?”, “E se eu tivesse sido mais tolerante?”, “E se eu...”

Agora é tarde demais.

Inês é morta!


(GL)



© 1 Quadro "Assassínio da Dona Inês de Castro" de Columbano Bordalo Pinheiro / Museu Militar de Lisboa


* Esta é uma adaptação do Canto “Inês de Castro” (estrofes 120 a 135) do livro Os Lusíadas de Luis Vaz de Camões, com as seguintes interpretações:

Inês como NFL
Dom Afonso como Sindicato dos Jogadores
Dom Pedro como Donos das Franquias

Retrato de um Visionário

É raro ver Mark Cuban, dono do Dallas Mavericks, de terno e gravata. Uma camiseta básica com o logo dos Mavs, calça jeans e tênis é o conjunto que forma o uniforme diário dele. Diferente de outros executivos de clubes da NBA, Cuban gosta de sentar perto do seus jogadores, bem atrás do banco e esta aproximação física é um espelho do que é feito no dia-a-dia na administração da franquia. 4 de Janeiro de 2000 foi a data que Cuban adquiriu os Mavs por 285 milhões de dólares e as festividades do Jogo das Estrelas deste final de semana servirão também para comemorar os 10 anos desta união que mudou a história do basquete em Dallas.

Até atingir este status, ter o dinheiro e chegar na cidade, muita coisa aconteceu.

Cuban cresceu em Pittsburgh (estado da Pensilvânia, costa leste dos EUA). Foi lá que se iniciou as ações empreendedoras dum garoto que tinha só um objetivo em mente: fazer dinheiro e se divertir. Seus amigos e irmãos entravam na onda de Mark e o ajudavam a vender - porta em porta - de sacos de lixo a doces. Certa vez um dos principais jornais da cidade (Pittsburgh Post-Gazette) deixou de publicar jornais no domingo e Cuban teve uma idéia: foi até Cleveland e comprou vários exemplares dominicais do Plain-Dealer e os vendia em Pittsburgh.

Quando chegou na universidade (de Indiana), Cuban manteve sua vocação para os negócios e comprou o principal barzinho perto do campus, point número 1 dos estudantes. Assim que ele se formou, voltou para sua cidade e conseguiu um emprego no Mellon Bank; o mundo corporativo recebia o jovem negociante.

Mas esta não era a dele e depois de apenas um ano, não fazia mais parte da equipe do banco. Porém foi lá que ele conheceu computadores e toda a tecnologia que os envolve, situação chave que logo o ajudaria.

Para uma melhor localização, estamos no ano de 1982, período que ele largou o importante emprego para ir morar com seis amigos em Dallas. Foi uma baita aventura para Cuban e seus colegas, dividindo um apartamento com três dormitórios... Por ficar acordado até tarde, Mark dormia no chão. Isto não acontecia porque ele era baladeiro ou coisa parecida; estava conhecendo melhor o que era um computador e suas funções.

Para se sustentar, arranjou uma vaga numa loja que vendia PC´s. Apesar de não ser sua especialidade, Cuban se saia bem nas vendas, sendo um dos melhores da equipe. Por ser carismático e conversador, conseguiu fazer um bom lobby, o movimento certo para sua próxima cartada. Depois de desistir da loja, entrou em contato com um dos seus principais clientes e lhe apresentou uma idéia inovadora e barata. Com US$ 16 mil dólares eles abriram (em 1983) uma consultoria em informática, chamada Micro Solutions. Foi um estrondoso sucesso. Em 1990 Cuban e seu sócio venderam a empresa por 6 milhões de dólares. Cuban tinha 31 anos e já era milionário.

Foram sete anos de trabalhos ininterruptos, sem uma folga sequer, muito menos férias. Após pegar sua parcela da transação, Cuban decidiu descansar por um tempo, viajando pelo mundo durante um ano. As indas e vindas por aí lhe rendeu mais experiência e conhecimento, renovando suas energias para o próximo empreendimento.

Depois de um hiato de cinco anos, a “lâmpada acima da sua cabeça acendeu" quando um dos seus companheiros de universidade deu uma idéia de transmitir jogos de Indiana através da internet. Com um pequeno microfone e um rádio gravador, surgia a AudioNet. Cuban foi bem claro ao dirigir as palavras aos seus primeiros funcionários da nova firma (foto abaixo): “Vamos nos dedicar e fazer com carinho o nosso trabalho e daqui a cinco anos teremos dois resultados: ou seremos milionários ou bons amigos.”. A empresa crescia e passou a contratar mais gente e mudou de nome: passou a se chamar Broadcast.com.


A posição do site era muito boa, mas faltava mais investidores para expandir o negócio. Cuban e seu sócio/amigo, Todd Wagner, foram para as mais importantes cidades do mundo, mas não acharam ninguém para jogar dinheiro na marca. Eles então tiveram a ousadia de entrar no mercado de ações da cidade de New York, colocando o domínio na competitiva Nasdaq, exclusiva para empresas tecnológicas. Antes de ingressar na bolsa, uma empresa avaliou o preço de cada ação da Broadcast.com, chegando ao valor de US$ 18, o que não era nada mal. Porém, quando o primeiro pregão com o domínio disponível terminou, as ações subiram absurdos, chegando à US$ 68.75, uma valorização recorde em toda história da Nasdaq.

Em 1999 a Yahoo! comprou a Broadcast.com por 5.7 bilhões de dólares. Trinta dos seus primeiros funcionários se tornaram milionários (e também bons amigos).

O amor pelo basquete – que teve inicio em Indiana com os times espetaculares de Bob Knight – se mantinha vivo em Dallas e Cuban era um dos poucos que possuíam ingressos de todos os jogos da (então) infame franquia. Do nada veio a idéia: porque não juntar o útil ao agradável e comprar o clube? Para ele e a população de Dallas se divertirem, em 2000 isto aconteceu.

O patrimônio que Cuban possui (US$ 2.3 bi segundo a Forbes, e número 296 entre os bilionários do mundo) não tem nada a ver com os Mavs, que só foram lucrativos em uma das nove temporadas com Mark no comando. Não porque ele não conseguiu (consegue) fazer a franquia dar dinheiro, a questão é que este não é o seu objetivo. Exemplo: no primeiro ano dele como dono, foi gasto mais com infra-estrutura nas acomodações do ginásio-e-clube do que com a folha salarial do elenco – ele tem uma produtora de filmes (2929) e um canal de televisão (HDNet) que faz transmissões em alta definição, daí vem sua fortuna.

Hoje o Dallas Mavericks pertence a elite da NBA (leia “S de Satisfatório”) e foi um time competitivo nesta última década. Um fato importante é que a franquia deixou de ser desprezada na cidade para competir em popularidade com os Cowboys (time da NFL). São mais de 330 jogos com todos os ingressos vendidos e os Mavs agora é considerado uma da franquias mais populares da associação.

Cuban faz questão de cobrir os rombos que o clube por ventura venha a fazer nas finanças. Em grande parte isto acontece por uma causa nobre. Ele pega 10 jogos por temporada e coloca 1500 ingressos a US$ 2, além de vender ingressos no dia do jogo de 5 a 30 dólares. Entre lucrar com as entradas e tornar o time mais popular, ele prefere a segunda opção.

Esta abordagem vai ser realizada neste próximo final de semana. Os eventos do Jogo das Estrelas serão acessíveis e o povo irá participar de ações feitas pela NBA e os Mavs em toda a cidade. Vai ser uma grande festa e claro que Cuban estará presente, vestindo uma camisa com o logo dos Mavs, calça jeans e tênis.


(GL)



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© 2 Getty Images

É Carnaval!


A cidade de New Orleans, estado da Louisana, ganhou mais dois desfiles especiais na sua tradicional festa carnavalesca: um ontem e outro na próxima terça.

Todos habitantes da cidade festejaram na noite/madrugada deste domingo o título dos Saints, que venceu o Indianapolis Colts no Super Bowl XLIV (31 a 17). E depois de amanhã será a vez do elenco e de membros da franquia desfilarem nas ruas, celebrando a inédita conquista.

O carnaval de New Orleans (conhecido como Mardi Gras, francês para Terça-Feira Gorda), começou no dia 6 de Janeiro deste ano, mas a exemplo do que acontece nas cidades brasileiras que fazem um longo carnaval, as festividades esquentam mesmo na última semana da programação. Os responsáveis por “incendiar” mais ainda o Mardi Gras estarão em cima de um caminhão saudando aqueles que os apoiaram incondicionalmente desde o pós-Katrina, aqueles que estiveram torcendo por eles na grande decisão da NFL.

Drew Brees, o MVP da partida, fez um quarto período fantástico e colocou o time a frente depois de estarem perdendo por 17 a 16 no final do terceiro período. Com ajuda da defesa e a interceptação para touchdown de Tracy Porter restando pouco mais de 3 minutos para o termino do jogo, os Saints puderam comemorar e desfrutar da alegria única que é vencer o Super Bowl.

O mesmo pode ser dito dos moradores da cidade. As sequelas do furacão ainda estão marcadas em 75% da população que precisou se deslocar do seu lar pré-Katrina. Ainda existem sinais da destruição que ocorreu em 2005, assim como há muita gente trabalhando para ajudar a reconstruir a cidade, revigorando o animo das pessoas que também precisam de renovação. O mais legal é que a cidade recebeu de portas abertas gente de fora que foi para lá com disposição de ajudar e que acabaram se identificando com o espírito alegre do lugar, se tornando filhos adotivos.

Esta mistura de pessoas estavam reunidas ontem nas principais ruas da cidade para extravasar. Estranhos se cumprimentavam e abraçados fizeram um verdadeiro carnaval. Foi criado, espontaneamente, o bloco “Unidos de NOLA”, com uma flor de lis sendo o símbolo e as cores preto e dourado predominando nas “fantasias”. Porém ao invés do samba comandar a festa, trompetes (com o puro som do jazz) animavam os foliões, que dançavam e gritavam se esbaldando de alegria.


Nunca se viu nada igual. Depoimentos de torcedores deram conta de que o que estava acontecendo naquele instante era algo jamais visto. Uma fã (Melaine Stevenson) disse ao jornal USA TodayIsto é 10 vezes mais louco que no Mardi Gras”. E olha que muita coisa doida se vê no Mardi Gras.

O consumo de bebidas alcoólicas é alto e logo vem a percepção do por que dos comportamentos, digamos, mais alegre de alguns – principalmente quando as moças resolvem ficar mais à vontade... Contudo isto não é visto em todo o canto, já que em geral o Mardi Gras é familiar, com os coloridos e chamativos carros alegóricos enchendo os olhos das crianças; o carnaval de New Orleans é diversão para todas as idades.

Parecido com o que é visto no Brasil – evidente que não com o mesmo fervor – o Mardi Gras atrai turistas e faz parar a cidade por um determinado tempo. A vitória dos Saints tem tudo para prolongar mais ainda este tempo, haja visto o que aconteceu antes do Super Bowl, quando o Tribunal da cidade suspendeu julgamentos em todos os dias da semana passada.

Descrever a paixão que New Orleans sente pela sua franquia da NFL é difícil. Os Saints representam muito mais do que uma entidade esportiva, faz parte do cotidiano de cada um dos moradores. Este laço ficou mais apertado quando o Katrina atingiu em cheio NO e o clube ajudou diretamente a população, na emergência e quando o caos se dissipou. O carinho é enorme e só perde em tamanho pela gratidão que os habitantes têm pelo time. Por essas e outras que o título conquistado em Miami significa mais do que um troféu, também serve com um injetor de felicidade, colocando um sorriso nos que não tem um motivo para ficar alegre com as dificuldades do cotidiano.

Não quer dizer que é um desengano. O esporte é feito pra isto também: um instrumento de escape para os problemas de cada individuo. Torcer e vibrar são ações que colaboram para descarregar as energias que a cansativa rotina impõe em cada um. O fanatismo é um exagero para se evitar, mas acompanhar com devoção um time é gratificante, principalmente quando ele sai vencedor.


Ontem foi só uma mostra do que será visto amanhã. O limite do corpo humano será desafiado, pois os torcedores dos Saints vão pular, gritar e curtir até o máximo. O fôlego não será todo gasto, ao contrário, será uma renovação para encarar uma semana toda até chegar a terça-feira gorda.

Depois vem a quarta-feira de cinzas, mas aí é outra história; ainda faltam vários dias.

Então, enquanto isto, uma frase basta:

É carnaval!



(GL)


© 1 e 2 AP
© 3 Reuters


Leia mais: artigo sobre Rita Benson LeBlanc, Vice-Presidente Executiva dos Saints: A Bem Aventurada Entre os Santos (publicado dia 13/01/2010)

Respeito Adquirido


Geralmente, as coisas feitas às escuras acontecem porque são erradas. Pessoas fazem isto por vergonha, não querem que ninguém descubra. Grande parte das ações ilícitas são realizadas na calada da madrugada e a cidade de Baltimore, usando este simples raciocínio, se posiciona contra os Colts, pois afirmam que a franquia foi roubada da noite pro dia.

Literalmente.

Era 28 de Março de 1984 e a franquia Colts estava em Baltimore. Na madrugada do dia 29 de Março de 1984 os Colts já estavam em Indianapolis. Por questões burocráticas, pessoais e um estádio no meio da discussão, o então dono do clube, Robert Irsay, saiu da cidade e foi para um estado que ama basquete e automobilismo, menos football. A tarefa para administrar um time da NFL por lá não seria fácil e Jim Irsay (filho) assumiu a diretoria da equipe, com a missão de adaptar a franquia na nova cidade.

Passaram 25 anos e Jim, depois da morte do pai em 1997, recebeu de herança os Colts. Antes havia um sentimento estranho em Indianapolis, pois a população ficava meio receosa em relação a chegada repentina de um grande clube da NFL. Porém, depois destes anos todos e do sucesso do time dentro de campo, Indy apoia com carinho e devoção uma das franquia mais bem administradas e respeitadas de toda a liga.

De 2000 pra cá, são 115 vitórias em partidas de temporada regular – quebrando o recorde do San Francisco 49ers de 113, conquistado na década de 90 –; um recorde de 23 vitórias seguidas em jogos da temporada regular; oito classificações seguidas aos playoffs e em cada uma destas temporadas o time conseguiu dez vitórias ou mais; um título de Super Bowl (2006-07); e o único jogador a ganhar quatro vezes o MVP: Peyton Manning.

Creditar somente a Manning o sucesso dos Colts não é justo. A franquia fez muito mais do que pegar o melhor jogador disponível no draft de 1998 e Irsay tem uma grande parcela nisto. Ao trazer Bill Polian no final de 1997 para ser o presidente do clube, Jim entregou nas mãos certas o controle do elenco e a recompensa veio nos anos seguintes com os feitos conquistados em campo e os prêmios ganhos fora dele – Polian foi o eleito 2 vezes com os Colts o Melhor Executivo do Ano (1999 e 2009).

Polian, Irsay e Manning

Porém não tem como negar, Manning tem uma boa e considerável parcela nos resultados positivos recentes da franquia.

Irsay não gosta de se auto promover e dizer que tudo de bom que aconteceu com os Colts foi graças as suas ações; ele gosta de dizer que a sorte sempre teve lhe ajudando. A escolha de Manning no draft, por exemplo: e se ele tivesse entrado um ano antes? No caso, o New York Jets seriam os sortudos, mas acabou não acontecendo assim. Com a primeira escolha no draft de 1998, Irsay estava determinado em pegar o então QB da Universidade do Tennessee e em uma das conversas entre os dois, Manning disse: “Quero deixar algo claro: se me escolher, irei vencer por você”.

E isto Peyton fez. Irsay sempre se lembra da reunião e o resultado é a sua mais recente declaração: ele irá fazer o camisa 18 do seu time o jogador mais bem pago de toda a liga na temporada 2010-11.

Dinheiro Irsay tem. Pessoalmente, ele é um dos homens mais ricos do mundo, listado na lista TOP 400 da revista Forbes – mais de 1 bilhão de dólares em patrimônio. Os Colts, mesmo jogando em um dos menores mercados da NFL, é altamente sustentável, com uma folha salarial balanceada e um novo estádio que vale mais de US$ 720 milhões. Uma das vantagens dele é possuir o controle total da franquia (100% das ações), não dividindo dinheiro ou decisões com ninguém, algo raro na liga.

O que não faz dele um autoritário. Pelo contrário, Irsay é sociável e extrovertido – dizem que ele é o oposto do seu pai. Jim é novo (50 anos de idade) e esta, digamos, juventude só lhe ajuda nos bastidores e no tão famoso e importante lobby. Sua opinião sobre qualquer assunto é respeitada, o que ficou claro no episódio Rush Limbaugh no ano passado (leia: “Dossiê Rush Limbaugh”) onde Irsay prontamente se posicionou contra a possível entrada da polêmica celebridade no seleto grupo de donos da NFL.

Uma das virtudes de Irsay é criar laços com seus funcionários, que acabam se identificando com ele e trabalhando com mais dedicação. Dos jogadores aos treinadores (apenas 3 nos últimos 12 anos), passando pela diretoria aos trabalhadores corporativos (alguns com mais de 20 anos de clube), os Colts têm uma áurea de família em volta e é a franquia que mais tem funcionários de toda a NFL.

Irsay é sinônimo de êxito em Indianapolis. Já em Baltimore é sinônimo de palavrão... Por muitos anos ele manteve escondida na mesa de seu escritório uma Magnum .35, temendo represálias da cidade que seu pai abandonou – mantinha as escondidas para ninguém descobrir. Mesmo após turbulências e dúvidas, ele construiu uma nova equipe, com uma nova identidade e perspectiva.


Embora ele mantenha um hobby na surdina e só pessoas próximas conhecem. Ele não faz às escuras por ter vergonha ou por ser algo errado, mas por não querer se auto promover. Quando ele está perto de uma guitarra ele não se controla e começa a tocar, tirando sons clássicos da música rock. Essa é a hora que ele tira o terno e coloca uma camisa bem curta, deixando transparecer uma tatuagem no ombro direito. É uma ferradura de cavalo que o faz lembrar do que ele representa para um franquia que esteve por muito tempo ao léu e que hoje é uma das mais admiradas e exaltadas.


(GL)



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© 3 Steve Healley / Indianapolis Star

Memórias de um Santo Imperfeito



Lidar com as expectativas é um dos passatempos preferidos do ser humano; alguns têm baixas esperanças, outros precisam controlar o exagero. Passar por esta experiência não é tão complicado assim, desde que não haja uma redenção aos extremos, tipo: “sou um fracasso” contra “sou um sucesso”. Quem cai neste dilema pode se prejudicar.

Reggie Bush (foto acima), RB/PR do New Orleans Saints, foi pego pelo lado da euforia e passou a ser quem não era. Depois de vencer o Troféu Heisman em 2005 (prêmio dado ao melhor jogador da NCAA) e ser a escolha número 2 no draft de 2006, a prepotência e arrogância tomou conta dele, impedindo que enxergasse a realidade.

Seus companheiros da época contam que o novato Bush se comportava como uma estrela, pura “diva”. Parecia que já tinha conquistado tudo o que é necessário para ser respeitado pelos outros jogadores, merecendo um tratamento diferenciado. Foram dois os erros dele: acreditar que os feitos conquistados quando defendia a Universidade do Sul da Califórnia (USC) lhe dariam credibilidade no profissional; e ir na onda da mídia que mostrava um “Super Reggie Bush”, alguém que iria revolucionar a posição de RB na NFL.

Ledo engano.

Como ele iria ser “O Cara” na NFL se ele nem era o principal corredor da USC?

Nos últimos dois anos na NCAA, Bush correu com a bola 343 vezes enquanto LenDale White (hoje no Tennessee Titans) correu 400 vezes. Durante toda sua carreira universitária, Bush foi titular em apenas 14 jogos (de 39). Porém, o que chamava mais a atenção era sua versatilidade, pois ele fazia grandes jogadas quando recebia um passe – seus números combinados entre jardas recebidas e corridas são o principal destaque.

A maioria dos olheiros da NFL, dos treinadores e do pessoal administrativo sabia que este era o verdadeiro Reggie. Mas algumas vozes mais fortes e poderosas ecoavam a idéia que ele seria um líder, imediatamente uma estrela, que correria com força entre os defensores... Se esqueceram de ponderar que estas determinadas características não integravam o jogo de Bush. O problema maior foi que o jogador abraçou este conceito e entrou com ele na liga.

Como não podia ser diferente, Bush não correspondeu a alta (falsa) expectativa que lhe impuseram (com sua ajuda, claro) e se tornou um jogador complementar. Considere, porém que os números dele não fogem de quem ele realmente é deixando claro que ele se enganou ao ouvir as tais "...algumas vozes".


Até o momento (03/02) Bush tem 1940 jardas corridas em seus 4 anos na NFL, adicione a isto 1934 jardas recebidas e se obtém o verdadeiro Reggie Bush, um jogador complementar sim, mas acima da média.

Esta temporada 2009-10 serviu com uma analise psicológica para o atleta, lhe orientando sobre quem ele pensava que era, quem ele estava sendo e quem ele poderá ser. Por mais que as contusões tenham lhe prejudicado – ficou fora de dois jogos – Sean Payton, treinador dos Saints, encontrou o papel ideal para o RB, bem diferente daquele de temporadas passadas.

Veja: Bush foi titular em apenas oito partidas neste campeonato e é o quarto RB no elenco dos Siants, atrás de três jogadores que entraram na liga sem serem draftados: Mike Bell, Lynell Hamilton e Pierre Thomas. Esta postura não deve ser encarada como desrespeito, mas como entendimento completo do potencial que Bush pode trazer para a equipe.

Ele entra em campo em momentos chaves e sua versatilidade vem trazendo resultados nestes playoffs. Foram três touchdowns marcados e cada um diferente do outro: um correndo, um recebendo e um retornando punt. Demorou, contudo Bush agora encontrou quem ele é:

São coisas que se aprende com o tempo. Quanto mais jovem você é, mais imaturo você se torna. Estes meus quatro anos de experiência me ensinaram bastante coisa”.

O passado pode lhe mostrar imperfeições e falhas, mas pode lhe inspirar a ser um melhor jogador na partida mais importante de sua carreira. No Super Bowl XLIV (44) – contra o Indianapolis Colts – o QB dos Saints precisará do multifacetado Bush para romper a forte e resistente defesa adversária e a decisão do BCS de 2006 serve como fonte de renovação. Na partida contra Texas Longhorns, Bush teve 82 jardas corridas, 95 recebidas e 102 retornando kickoffs. Não precisa ser algo tão extraordinário, basta Bush ser ele mesmo que será o suficiente.





Então, quem foi que fez esta corrida (vídeo acima) contra o Arizona Cardinals? Os jornalistas de New Orleans brincam que Deuce McCaliister (lendário RB da franquia e que esteve presente no jogo) pegou a camisa do Bush e saiu correndo por aí... Antes Reggie corria de mão dadas com a presunção, hoje a confiança é sua principal companheira. Este ano de 2010 revigorou a mente do jogador, preparado para ser mais um no elenco de 53.

Um jogador complementar sim, mas acima da média.



(GL)



© 1 Reggie Bush Media
© 2 Streeter Lecka / Getty Images


Leia Mais: Sobre o treinamento de Reggie Bush: Pega Leve?! (artigo publicado dia 22/07/2009)

Atividade Paranormal


Por qualquer motivo que seja, suponhamos que você vai passar umas férias na cidade de Oklahoma. Passeando pelas ruas, logo surge no horizonte este estupendo hotel da foto acima. Ao descobrir que ele faz parte da rede Hilton você diz: “Achei meu lugar”.

Assim que você entra, os traços antigos do prédio chamam a atenção, pois estão reformulados e conservados. Inquieto, você se dirige a um funcionário e pergunta a idade do hotel: “99 anos” ele responde. A curiosidade aumenta assim como as indagações, uma espécie de pesquisa sobre as histórias do prédio começa. Lá pelas tantas, o tema “mal-assombrado” aparece e um ar de mistério ronda sua mente... será que é verdade?

Os jogadores do New York Knicks e Chicago Bulls tiveram recentemente esta experiência com fantasmas no Skirvin Hotel (que recebe os times da NBA que jogam contra o Thunder em Oklahoma). A frase “as aparências enganam” se encaixa perfeitamente nesse conto urbano.

Dia 11 de Janeiro o time de New York foi fazer uma visita em OKC e jogar contra Kevin Durant & Cia. Sem surpresas, o placar foi favorável ao Thunder (106 a 88). O que chamou a atenção foi as conversas dos jogadores dos Knicks no vestiário após a derrota, com alguns dizendo que tiveram dificuldade em descansar na noite anterior porque coisas estranhas aconteceram no hotel.

Quem mais sofreu foi o pivô Eddy Curry. Com seu quarto no andar de número 10, ele disse após o jogo que conseguiu dormir apenas duas horas na noite anterior e que isto aconteceu no quarto do armador Nate Robinson. Curry não conseguiu ficar no seu quarto porque assombrações estavam lá o atormentando e então ele teve que se mudar. O ala Jared Jeffries confirma a tese de Curry dizendo “Eu definitivamente acredito, O lugar é mal-assombrado. É assustador”. Eddy (foto abaixo) adiciona “Existem muitas histórias... Alguma coisa acontece por lá”.


Seguindo esta linha de raciocino do pivô dos Knicks, Derrick Rose (armador dos Bulls) compartilha da mesma idéia: “Se todos da cidade comentam, é porque algo deve ser verdade”. Rose fez esta declaração pouco antes do seu time entrar em quadra contra o Thunder no dia 27 de Janeiro, após seus companheiros terem experimentado um pouco das aparições dos fantasmas no Skirvin Hotel.

A principal vítima foi Taj Gibson. Ele disse que a porta da sua suíte simplesmente fechou do nada; uma pancada fortíssima. Minutos se passaram para ele se recuperar do susto, mas não foi preciso deixar o quarto onde estava. Outros jogadores dos Bulls ouviram gritos, barulhos e similares, porém nada que abalou o time – que venceu a partida: 96 a 86.

A mídia pensou que os fantasmas era a mais nova desculpa dos jogadores do New York para justificar o péssimo basquete apresentado em quadra. Contudo ao ouvir o testemunho dos atletas do Chicago, o ponto de interrogação surge... será que é verdade?

O hotel está perto de completar 100 anos, mas passou por uma reestruturação completa em 2007 e todas as dependências foram modernizadas e aprimoradas para os padrões Hilton. Só esqueceram de chamar os Caçadores de Fantasmas para se encarregarem de espantar a rebelde hospede.

Isto mesmo, é A fantasma e tem até apelido: Effie, colocado pelos funcionários do hotel.


A lenda tem seu início em 1930. O dono do Skirvin (casado) tinha um caso com uma moça. Ao ficar grávida, a garota ficou presa no 10º andar – ordens do chefe – para evitar um escândalo. Ela ficou enlouquecida naquele quarto, acabou sozinha dando a luz ao bebê por lá mesmo e se suicidou pulando da janela.

O relato de pessoas dão conta de ver uma mulher nua correndo até a janela e parar, sentando então na beirada. Homens dizem ouvir uma voz feminina chamando nomes. Outros afirmam que viram portas batendo e uma voz gritando “Para!; Sai daqui!”. Outros dizem ouvir constantemente um choro de uma criança...

Fato é que são inúmeros os casos de gente que ficou no hotel e viu vultos/fantasmas e ouviu gritos/choros/barulhos. Há também depoimentos de pessoas que viram objetos se moverem...

O que não pode mais acontecer é uma equipe da NBA perder para o Thunder em Oklahoma e culpar o Skirvin Hotel por prejudicá-los no descanso, já que os Bulls estão aí para desmentir esta tese. O mais interessante foi a declaração do treinador do Chicago, Vinny Del Negro, sobre se ele viu Effie por lá: “Não” disse “Mas estou feliz que agora vamos para outra cidade”.

Os torcedores do Thunder têm uma boa inspiração para intimidar os adversários quando vierem a jogar no Ford Center. Dificilmente os times visitantes ficarão em outro hotel, porque a estrutura do Skirvin (desde a reforma) é uma das melhores de Oklahoma e fica a ± 10 minutos a pé do ginásio. O que se aguarda ansiosamente são futuros depoimentos de jogadores para confirmar ou desmentir Efiie. Independente disto, a questão sempre será a mesma... será que é verdade?


(GL)



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