Recesso

O Grandes Ligas dá uma pequena pausa e volta as atividades normal no dia 11 de Janeiro de 2011.

Enquanto isso leia (ou releia) os 20 textos destaques de 2010 e comente qual é seu artigo preferido.

Que todos leitores tenham um fantástico 2011, cheio de conquistas e vitórias

Abraço!


A Bem Aventurada Entre os Santos – sobre Rita Benson LeBlanc

A Morte da Inês – sobre a greve na NFL

O 1 de 101% - sobre Josh Hamilton

Mulher – Especial Danica Patrick

Outro Reinado, Outras Leis – sobre Michael Jordan

Milagre no Vale de Ossos Secos – sobre Shaun Livingston

Legalmente Estonteante – A Fã nᵒ1 do NY Giants – sobre Reby Sky

Jovem Com Skate na Terra de Outrora – sobre Tim Lincecum

O Problema em Saber Demais – sobre Myron Rolle

Carta à Lailaa Nicole Williams – sobre Candace Parker

Fascinante – sobre a Copa do Mundo

Gisele Bundchen & Tom Brady

Eu + Eu Mesmo – sobre Chad Ochocinco

Casamento: Solução ou Problema? – sobre Antonio Cromartie

Muni no Shiyuu – sobre tradutores japoneses na MLB

Sentidos e Direções – sobre esporte e religião

Tolerância, Conivência e Seus Tinos – sobre Ben Roethlisberger

Faz um 21 – sobre Tiago Splitter

LeBron James: A Pessoa do Ano

A Filantrópica de Tampa Bay – sobre Gay Culverhouse

Especial NBA - Um Brinde!


Os atuais comentários que sondam o mundo da NBA discutem se a temporada 2010-11 é a melhor da história. Este caminho leva ao medonho território da comparação: E na época de fulano de tal? E naquele tempo do...?

Em 63 anos, grandes atletas pisaram nas quadras da associação, responsáveis por popularizar e desenvolver o jogo. É inegável, contudo, determinar que um único jogador definiu a total excelência em si, dividindo em eras o tempo: antes de Jordan e depois de Jordan.

Michael Jordan! Suas conquistas e realizações são assunto para outra conversa, mas se faz pertinente notar que sua representatividade criou uma marca e uma enorme responsabilidade sobre aqueles que o sucederiam. Quem será o “novo” Jordan? Quais jogadores vão carregar a NBA após sua aposentadoria?

Claro que o nível caiu um pouco quando os principais nomes da liga – com exceção de Kobe Bryant e Shaquille O´Neal, líderes dos Lakers tricampeão no começo da década passada – eram Allen Iverson, Tracy McGrady, Vince Carter, Chris Webber, Stephon Marbury, Steve Francis... Por mais que os fãs do basquete admirassem o talento destes (e de outros jogadores não citados), eles não atraiam atenção do público em geral.

Com um pulo de dez anos é possível observar como que as principais estrelas da associação trilharam a rota que trouxe até o presente. Hoje a elite da NBA tem atletas que passaram pela depressão pós-Jordan e alguns que chegaram na crista da onda. O Grandes Ligas faz uma honrosa menção a 14 profissionais que colocam a NBA num singular momento histórico e construíram uma carreira alicerçada em conquistas, talento acima da média e desbravamento.

Um brinde!


***



Tony Parker – armador do San Antonio Spurs: O francês não se importa quando não é mencionado nas listas de melhores armadores da NBA. Está certo, pois muitos dos que são lembrados não tem os três anéis de campeão que ele possui. Quando novato (2001-02), foi titular em 72 jogos e já na segunda temporada foi campeão. Em 2007 ganhou o troféu de MVP das Finais. Na temporada 2010-11 tem posto os melhores números da carreira em assistências: 7.1 em média por jogo.

Dwyane Wade – armador do Miami Heat: Ele não se vangloria por isto, mas analistas e torcedores falam sem precipitação: Wade ganhou um título antes de Carmelo e LeBron, ambos escolhidos na frente dele no draft de 2003 – foi o MVP das finais em 2006.

LeBron James – ala do Miami Heat: Ao sair do Cleveland Cavaliers, o atual bi-MVP da associação tornou-se mais polarizador. Ele ingressou na NBA com uma expectativa altíssima e, na medida do possível, administrou o alvoroço. Em 2010 sua imagem foi afetada por uma péssima “decisão” de fazer um especial de TV para anunciar em qual time jogaria nesta temporada. A repercussão atingiu níveis extraordinários, induzindo a revista TIME a colocá-lo na disputa do título “A Pessoa do Ano”. Completa 26 anos de idade no próximo dia 30.

Shaquille O´Neal – pivô do Boston Celtics: O sucesso do “The Diesel” é uma mistura do carisma fora das quadras com um jogo dominante dentro delas. Sua carreira o elevou ao status de ser comparado aos grandes pivôs da história da NBA. Tem quatro títulos, sendo que em três deles foi o MVP das Finais (2000, 2001 e 2002).

Kevin Durant – ala do Oklahoma City Thunder: Na temporada passada, com média de 28.1 pontos por jogo, ele foi o cestinha da NBA, o mais novo jogador da história a conseguir ser o líder em pontos ao final de um campeonato – também esteve presente no quinteto ideal da associação. Graças ao seu estilo de jogo empolgante e eficiente, o Thunder é considerado um dos melhores times da Conferência Oeste.

Kobe Bryant – armador do Los Angeles Lakers: Tem dois MVP de Finais (2009 e 2010) e tantos outros prêmios e feitos, mas um é especial e pode ser considerado o maior jogo individual na história da NBA. Seus 81 pontos contra o Toronto Raptors no dia 22 de Janeiro de 2006 está apenas atrás dos 100 pontos marcados por Wilt Chamberlain em 1962. Comparações a parte, este jogo de Kobe foi estupendo por dois aspectos: os Lakers começaram o segundo tempo perdendo de 71 a 53 e ele marcou 55 pontos no período final. Um vídeo para relembrar.



Derrick Rose – armador do Chicago Bulls: Ele é um dos raros jogadores escolhidos na primeira escolha do draft (2008) que ganhou o prêmio de novato do ano. Na sua temporada de estreia levou os Bulls aos playoffs e em seu primeiro jogo apresentou um número impressionante: 36 pontos – igualou a marca de Kareem Abdul-Jabbar como o novato que mais marcou pontos numa estreia de playoffs. Sua camisa está entre as cinco mais vendidas da NBA.

Chris Paul – armador do New Orleans Hornets: Foi o novato do ano em 2006 e participou de três Jogo das Estrelas. É o atual líder da NBA em roubos de bola e este fundamento coloca seu nome nos anais da associação: maior quantidade de jogos seguidos com pelo menos um roubo (103); maior número de jogos em uma temporada com pelo menos um roubo (80); único jogador da história que liderou a liga em assistências e em roubos por duas temporadas seguidas (2007-08, 2008-09).

Carmelo Anthony – ala do Denver Nuggets: Pare pra analisar: ele compete na associação há sete temporadas e nunca ficou de fora dos playoffs... No ano de novato ele elevou o jogo de Denver de forma surpreendente, ajudando o time a melhorar em 19 vitórias numa comparação com a temporada anterior. No ano passado disputou as finais da Conferência Oeste e perdeu para o Los Angeles Lakers.

Rajon Rondo – armador do Boston Celtics: Em sua segunda temporada na NBA, foi titular em 77 jogos e campeão junto com os Celtics. O alviverde de Boston é conhecido pelo trio Pierce-Allen-Garnett, porém as atuações majestosas de Rondo fazem o trio virar um quarteto. No atual campeonato, Rondo teve performances memoráveis nas primeiras partidas. Contra os Knicks, terceiro jogo, ele anotou 24 assistências e formou um triplo-duplo (empatado com Isaiah Thomas por conseguir ao menos 24 assistências num triplo-duplo). Em 20 jogos nesta temporada, somente em 3 ele anotou menos que 10 assistências (9, 7 e 8).

Deron Williams – armador do Utah Jazz: John Stockton é o principal nome da franquia Jazz quando o assunto é armação de jogadas. Porém Williams vem ganhando seu espaço levando o clube a lugares só antes liderado pelo lendário armador. No seu segundo ano na NBA, Deron liderou o Jazz no melhor começo de campeonato na história da franquia (12v -1d). Na mesma temporada (2007-08) o Jazz chegou às finais de Conferência pela primeira vez desde a saída de Stockton. No campeonato seguinte, Williams anotou 212 assistências no mês de Março (2008), maior marca da história em um único mês, ultrapassando Stockton e seu recorde registrado em 1992. Williams é o único jogador da NBA a conseguir mais de 20 pontos e mais de 10 assistências em cinco jogos seguidos de playoffs numa mesma série (em 2010 contra o Denver Nuggets).

Kevin Garnett – ala do Boston Celtics: Na maior parte de sua careira esteve cercado de jogadores do naipe de Wally Szczerbiak, Terrell Brandon, Latrell Sprewell, Rasho Nesterovic, Anthony Peeler... mesmo assim sempre esteve presente nos playoffs com os Timberwolves – chegou às finais de Conferência em 2004. Na cidade de Boston conquistou um título e há espaço para mais outro. Único jogador na história da NBA a ter média – maior ou igual – de 20 pontos, 10 rebotes e 4 assistência em nove temporadas seguidas.

Tim Duncan – pivô do San Antonio Spurs: Não existem muitos pôsteres do camisa 21 por aí, mas pelos triunfos conquistados merecia muito mais louvor. Tem quatro títulos da NBA e em três deles ganhou o troféu de MVP das Finais. Após 11 jogos nesta temporada, ele tornou-se o maior cestinha da história dos Spurs, assim como o jogador que mais atuou pela franquia.

Dwight Howard – pivô do Orlando Magic: Pensaram que ele faria da NBA um púlpito para pregar valores bíblicos; Howard não deixou de ser cristão e nunca teve a pretensão de agir conforme diziam. Depois de seis temporadas na associação, sua alegria e irreverência são características mais fortes e que são lembradas pelos fãs. Em quadra é conhecido pelo forte jogo defensivo – foi o primeiro jogador da história a terminar líder em rebotes e tocos por duas temporadas consecutivas. Está numa sequência de cinco temporadas seguidas como líder em rebotes, um recorde na NBA passando Wilt Chamberlain (que teve quatro).


(GL)
Escrito por João da Paz

Duas Cidades. Duas Influências.


Como o football determina a vida de uma cidade? Quais impactos exercidos sobre os habitantes? E sobre os torcedores? Uma franquia pode trazer para seu local de sede mais do que vitórias e/ou derrotas?

É possível entender alguns destes conceitos e encontrar respostas para as perguntas acima ao analisar o desempenho de dois clubes tradicionais da NFL. Denver Broncos e Green Bay Packers exemplificam a dimensão que o esporte da bola oval representa para suas respectivas comunidades. Cada franquia tomou um rumo diferente após se encontrarem num lugar comum.

O Super Bowl XXXII em 1998 foi o encontro maior entre essas duas equipes. Quem saiu com o troféu Vince Lombardi foi o Denver e na temporada seguinte veio o bicampeonato. Depois os Broncos passaram por um processo de reformulação e só chegaram às finais da Conferência Americana uma vez – perdeu em 2005 para o Pittsburgh Steelers.

Em 2006 não foram aos playoffs (9v – 7d) e a partir de 2007 começou uma sequência indesejada: com a mais recente derrota frente ao rival Oakland Raiders, a temporada 2010 é a quarta seguida que os Broncos terminam com mais derrotas que vitórias. O fraco desempenho demonstrado em campo é só um dos aspectos que incomodam os dedicados fãs. Polêmicos e graves assuntos fora das quatro linhas colocam o time de Denver em ingratas manchetes.

A demissão no meio da temporada do jovem treinador Josh McDaniels, 34 anos, enfurece os torcedores. Ele seria o cara responsável por tornar o time competitivo e relevante na Conferência Americana. Toda diretoria apostou nele e lhe entregou um totalitário controle sobre o elenco. Tal ação resultou na arriscada negociação feita no draft deste ano. Para ficar com a vigésima quinta escolha do Baltimore Ravens, foram cedidas outras 3 dentro do próprio draft; e uma quantia em dinheiro. Tudo isso gasto em Tim Tebow, um quarterback que muitos acreditam que não merecia tanto.


McDaniels (foto acima) bancou a transação e assumiu a responsabilidade. Depois de derrotas e mais derrotas, os torcedores pediam a entrada do camisa 15 como titular, numa espécie de desafio do tipo “vamos ver se o seu QB é tudo isso mesmo”. Acabou que Tebow foi titular sim, mas só após a saída de McDaniels. Entretanto o resultado não foi tão diferente dos demais: derrota.

Desde o avassalador começo da temporada-2009, os Broncos perderam 19 dos últimos 24 jogos disputados...

Visto que pouco problema é bobagem, eis outros: recentemente o CB novato Perrish Cox foi preso por assédio sexual (pode pegar uma extensa condenação); em Outubro o LB DJ Williams foi preso por dirigir embriagado; em Setembro o WR Kenny McKinley cometeu suicídio; em 2007 o CB Darrant Wiliams foi assassinado e no final do primeiro semestre de 2010 alguns membros do elenco compareceram em juízo como testemunhas no julgamento do caso.

Lembrando da punição imposta pela NFL em McDaniels e no Denver por espionagem feita contra o San Francisco 49ers antes da partida em Londres no dia 31 de Outubro.

O momento não é bom para os fãs dos Broncos. Eles podem considerar o que está acontecendo como um teste, uma prova de lealdade. Porém a paciência deles diminui a cada dia que passa e só manchetes positivas podem reavivar o sentimento positivo e a alegria na cidade que se identifica com sua franquia da NFL.

Evidente que nada se compara ao Green Bay Packers.

É simplesmente impressionante o sucesso do time verde-amarelo.

O município do estado de Wisconsin tem 101.025 habitantes (censo de 2008). O estádio Lambeau Field tem capacidade para 73.128 pessoas. A fila de espera para adquiri um carnê de ingressos é de 81 mil torcedores... até a matemática fica mais confusa.

A lotação máxima no Lambeau vem desde 1960, uma sequência ímpar. Para novos pagantes conseguirem ingressos é uma tarefa das mais árduas, pois muitos torcedores incluem o carnê das entradas no testamento assim transferindo o privilégio para os filhos ou parentes.

As coisas que envolvem os Packers são únicas. O mercado para um clube profissional é, em tese, altamente restrito. Contudo a histórica franquia, o terceiro mais antigo clube de football dos EUA, conseguiu construir uma especial identificação com a região. Visto que muito sucesso é bobagem, os Packers são a única franquia entre todos os esportes americanos profissionais que não tem fim lucrativo e que é comandada por donos comunitários. Estas diretrizes violam a atual ordem da NFL, mas os Packers são a exceção que a liga permitiu existir.

O cômico, para não dizer trágico, é observar franquias que estão sediadas em locais com milhões de habitantes não lotarem os respectivos estádios e sofrerem com as finanças... Os Packers, além de ter uma ligação forte com a cidade de Green Bay, rende dinheiro para o local mesmo quando não é temporada de football e o estádio é o grande responsável por isso.


O Lambeau - acima uma foto do átrio - não só funciona nos oito jogos da temporada regular. A última grande reforma, feita em 2003, modernizou as instalações e possibilitou a realização de grandes eventos fora do espectro esportivo (feiras, reuniões corporativas, convenções e etc.). O rendimento é alto sem fazer algo que muitos estádios apresentam: shows musicais.

Mesmo não gozando de um alto sucesso desde o Super Bowl XXXII – derrota na final da Conferência Nacional em 2007 para o New York Giants – o clube venceu alguns títulos da Divisão Norte e superou um temido tabu: jogar sem o QB Brett Favre. Aaron Rodgers o substituiu a altura e nas mais recentes temporadas os Packers são considerados candidatos ao título.

É preciso afirmar que os fãs de Green Bay são felizes e vivem o dia-a-dia da sua franquia com devoção e carinho. Não é preciso mencionar que em Denver a situação não é das melhores. Por mais que lá tenha os Nuggets na NBA e os Rockies na MLB, o que importa mesmo são os Broncos e o humor da cidade varia de acordo com o momento do time.

Sendo assim, é preciso afirmar que os torcedores dos Broncos não estão felizes; logo não é preciso dizer que em Green Bay tudo vai muito bem.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Justin Edmonds / Getty Images
© 2 Brian Kersey / UPI
© 3 Ron Chenoy / US Presswire

A Filantrópica de Tampa Bay


Ela conhece o mundo da NFL, mais especificamente daqueles que fizeram a liga grande e popular. Gay Culverhouse, ex-presidente dos Buccaneers, é a líder principal na luta travada entre os jogadores aposentados e a alta cúpula da NFL. Seu trabalho, sem fins lucrativos, consiste em ajudar os veteranos atletas que sofrem de alguma doença mental a obter beneficio da liga – o detalhe é que a burocracia impera nesta área.

Antes de adentrar nas nuances do problema, algumas perguntas são pertinentes: o que move Culverhouse? Quer dizer, por que se dedicar inteiramente, aos 63 anos de idade, a homens que enfrentam graves distúrbios de perda de memória? Ela, enquanto presidente dos Bucs no começo da década de 90 (1991-1994), estava estudando sobre o assunto. Apesar de ter chegado ao cargo com a ajuda do pai, então dono da franquia, era uma executiva de bom trato com seus atletas e criou uma boa relação com eles.

No meio tempo, três diplomas a fez especialista e lhe deu autoridade para falar sobre essas questões: Bacharelado em medicina na Universidade da Flórida, Mestrado em doenças mentais pela Universidade Columbia (uma das melhores do mundo) e Doutorado em educação especial também pela Columbia. Seu gosto por cuidar de pessoas elevou a um grau maior quando uma tragédia ocorreu e lhe abriu os olhos.

Um dos seus atletas na época, o offensive lineman Tom McHale, morreu em maio de 2008 ao tomar uma overdose de remédios. Tinha apenas 45 anos de idade, mas sofria de uma crônica encefalopatia traumática, traço comumente diagnosticado em lutadores de boxe. Ao saber do caso por completo, Culverhouse buscou descobrir se outros jogadores que atuaram no Tampa Bay sofriam de algo parecido. Depois de dois anos de busca, ela já cuidou e/ou encaminhou mais de 20 ex-Bucs.

Se McHale é o exemplo do descaso, há um bom exemplo do que pode ser feito. Jerry Eckwood foi durante toda sua carreira na NFL, de 1979 a 1981, running back dos Bucs. Desde que largou o esporte ele sofre de demência, mas em campo já demonstrava sequelas das constantes pancadas sofridas; várias vezes ele ia em direção do banco adversário e para o huddle do outro time. Sua passagem foi curta porque o problema era sério.

Culverhouse fez um propósito de achar Eckwood e ajudá-lo. Encontrou um homem abandonado pela NFL, sem assistência alguma da liga – a Universidade Arkansas, onde estudou, contribui com exames e tratamento. Ele então se tornou um dos primeiros ex-jogadores auxiliados pelo “Gay Culverhouse Player´s Outreach Program", criado para ser o elo unificador entre a NFL e os ex-atletas que precisam de ajuda médica e financeira.

Os investimentos na fundação tiveram inicio no bolso da anfitriã, doando cerca de US$ 400 mil dólares com o objetivo de encontrar mais ex-jogadores e orientá-los a conseguir uma pensão da NFL. O empenho dela ganhou um destaque enorme e no ano passado foi convidada pelo Congresso dos EUA para depor sobre as concussões ocorridas em jogos de football, sobre suas consequências e o quê tem sido feito para tratá-las. Sentada ao lado do comissário da NFL Roger Goodell e do presidente do sindicato dos atletas da NFL DeMaurice Smith, Culverhouse não se intimidou e falou com firmeza e direta ao ponto. Acusou tanto o sindicato quanto a NFL de negligência e cobrou atitude de ambas instituições.


Um ano após a sabatina, a NFL se aproxima da ação assistencialista, reconhece o brilhante esforço que ela faz e anuncia que irá apoiar o programa. Não será por meio de doações diretas, mas uma contribuição para que haja mais agentes a procura dos ex-jogadores e mais palestras para informá-los dos direitos que eles têm. Já é alguma coisa.

A dificuldade maior é conseguir preencher as papeladas e obter dinheiro da NFL. É preciso provar que os problemas mentais são decorrentes do tempo que determinado jogador esteve na liga. Para isso a limites de idade para pedir a pensão e certas barreiras em relação ao dinheiro a receber. Culverhouse esclarece as entrelinhas e, agressivamente, enfrenta a NFL em favor dos ex-jogadores.

Um clichê foi criado por ela ao ser indagada constantemente sobre por que faz isto: “Se eu não fizer, quem irá fazer?” Esta é uma interrogação afirmativa, porém sem resposta. Culverhouse, está de “hora extra”, pois seus médicos, em 2003, lhe deram apenas 5 anos de vida pela frente. O diagnóstico veio por descobrirem uma rara enfermidade: Mielofibrose Idiopática – pode se dizer que é um conjunto de infecções no sangue. Culverhouse tem três doenças raras em seu fluxo sanguíneo, todas de causas desconhecidas. Ela acredita ser resultado da poeira química respirada no dia do ataque às Torres Gêmeas de New York em 11 de Setembro de 2001 – era uma das pessoas que estava andando perto do local.

Ao saber do prazo dado pelos doutores, tudo foi preparado para sua despedida. Testamento foi escrito, epitáfio pronto... Mas o modo de pensar mudou e uma hora a mais passou a ser encarada como uma oportunidade ganha. 2.555 dias (ou melhor, oportunidades) depois, continua contando os feitos realizados e está à espera de novidades pela frente. Passou encarar a vida como uma missão e que esta tem que ser cumprida por ela.

A ironia do cotidiano causa momentos únicos. Enquanto ex-jogadores que sofreram concussões vão perdendo um pouco da sua vida a cada dia que passa, Culverhouse obtém um fôlego extra assim que o sol nasce e este sentimento de avivamento ela procura transmitir aos esquecidos pelos fãs, pela liga, pela memória... Quem passa pelas mãos da sobrevivente agradece a disposição desprendida para reforçar o conceito de sobrevivência que as vítimas de pancadas na cabeça precisam ter. Aí surge aquela história de que o um ajuda o outro, mas na verdade é o outro que ajuda o um.

Culverhouse desfruta de uma terceira idade difícil e tenebrosa, porém sua abordagem com as coisas corriqueiras é fruto de um método infalível: ajudar o próximo e ser feliz rindo das surpresas que a vida proporciona. Um dos seus netos – são 7 no total – está inserido nos esportes e decidido: ou vai ser jogador de football ou jogador de hockey. Para não perder o humor da trágico-cômica situação, a vovô coruja afirma: “Ótimo! Ou ele não terá cérebro ou ficará sem os dentes.”


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Reuters Pictures
© 2 Chip Somodevilla / Getty Images

A Charmosa Abelha Procura Lugar de Repouso

Literalmente a frase "propriedade da NBA” faz sentido para a cidade de New Orleans.

A franquia situada por lá, que disputa o maior campeonato de basquete do mundo, agora tem como dona a associação. David Stern, comissário, comprou os Hornets num movimento inédito e desesperador, com o objetivo de não permitir a saída do clube para outro lugar. A instabilidade em New Orleans resultado de um baixo envolvimento dos torcedores e problemas nas finanças, não atrai investidores locais – apesar de outras cidades terem interesse.

O fundador dos Hornets, George Shinn, decidiu vender sua parte majoritária da franquia (65%; por volta de US$ 300 milhões). Gary Chouest, dono minoritário (35%) calculou a possibilidade de possuir 100% dos Hornets, mas ele desistiu por não enxergar viável administrar o time de basquete e suas empresas (ramo petrolífero).

Nessa entra a NBA numa pura intervenção e terá árduas missões pela frente. Uma delas é levar torcedores para a New Orleans Arena, pois existe uma cláusula no contrato original, quando os Hornets saíram da cidade natal de Charlotte, que aborda a questão do público. Caso o clube, entre 1º de Dezembro de 2010 e 17 de Janeiro de 2011 (13 jogos em casa) não consiga colocar no ginásio 14.213 pessoas por média nestas partidas (no mínimo), a mudança de cidade pode acontecer sem nenhum empecilho. Até hoje (07/12) dois jogos foram realizados em casa dentro deste período: contra Charlotte Bobcats (publico de 10.866) e contra o New York Knicks (público de 13.865). A média total nos jogos na New Orleans Arena nesta temporada (10 jogos) é de 13.860.

Bons times vão visitar os Hornets até 17 de Janeiro como Utah Jazz, Los Angeles Lakers, Oklahoma City Thunder... Porém ver grandes times em quadra não é suficiente, afinal o próprio New Orleans faz uma bela campanha – 13v e 7d – mas não consegue incitar os moradores da cidade para irem assistir as partidas.


Outro cuidado primordial é o que fazer com o armador Chris Paul (foto acima), estrela da associação e principal jogador da equipe. Após o campeonato 2009-10 ele demonstrou insatisfação com os rumos que a diretoria estava tomando e não enxergava um futuro promissor em New Orleans. Depois de muita fofoca e conversas particulares, tudo se acertou e Paul permanece um Hornet; até quando?

Se o interesse da NBA é manter os Hornets em New Orleans, o possível e o impossível deverão ser feito para não deixar Paul sair. Caso assim seja, o desastre vem em dose dupla: o interesse dos torcedores da cidade cairá e possíveis compradores da franquia desistirão de uma futura aquisição.

Stern quer mostrar a empresários locais que os Hornets são um bom negócio e que a cidade de New Orleans tem capacidade e potencial de ficar com a franquia por um longo período. Isso pode ser visto como um conto, já que a realidade não é bem essa. New Orleans se mostrou pouco competitiva na NBA desde seu retorno ao campeonato em 2002 com os Hornets (a cidade é originária da franquia Jazz: 1974 até 1979). A partir de então houve a estadia, entre 2005 e 2007, na cidade de Oklahoma devido o furacão Katrina e somente uma boa temporada: 2007-08.

Nesse campeonato a NO Arena teve lotação máxima em 25 dos últimos 30 jogos. Os Hornets conquistaram o primeiro e único título de Divisão e foram para os playoffs como segundo colocado na Conferência Oeste; eliminado na segunda rodada. Para a temporada seguinte mais de 10.000 torcedores compraram ingressos para todos os jogos, mas o rendimento em quadra não correspondeu e o entusiasmo diminuiu drasticamente.

O fraco mercado para uma franquia da NBA, pouco dinheiro arrecadado nos acordos televisivos e essa inconsistência dos torcedores faz com que empresários não abracem a ideia dos Hornets em New Orleans. Quando o assunto muda de direção e outras cidades entram na conversa, a história é outra. Seattle e Kansas City são os locais que mostram mais qualidades em adquirir uma franquia da NBA e cada uma das cidades têm argumentos favoráveis.

A população de Seattle ficou devastada com a perda da conceituada franquia SuperSonics (virou Thunder e está em Oklahoma). Por problemas em relação a construção de um novo ginásio, o clube mudou de cidade, mas a base de torcedores continua presente a espera de um novo time. Os rumores em Seattle dão conta que Steve Ballmer, CEO da Microsoft - que tem sua sede na cidade -, está com mais dinheiro (US$ 1.4 bilhão) na praça em comparação quando tentou comprar o SuperSonics. Ele vai agir se houver a possibilidade de trazer uma franquia da NBA de volta para Seattle.

Já Kansas é uma cidade que não tem muito dinheiro, entretanto, apesar de um mercado restrito, é um local de muita paixão pelo esporte. No passado a cidade teve um clube na associação: os Kings entre 1972 e 1985. Kansas tem uma enorme vantagem porque lá tem uma arena pronta para receber jogos da NBA: o Sprint Center (foto abaixo).


O futuro é incerto para a simpática abelha que não sabe qual será o nome da cidade que estará em cima dela. Quando era Charlotte, sucesso e fama estavam com ela. A popularidade na cidade era enorme e foram registrados 358 jogos consecutivos com lotação máxima no antigo Charlotte Coliseum; até aqui no Brasil era possível ver, na década de 90, blusas e bonés com a abelha em destaque nas cores azul-petróleo e roxo.

A insistência permanece por parte de David Stern em manter os Hornets em New Orleans. As evidências são grandes para que uma mudança aconteça em breve. O prazo é curto para que uma solução seja construída e o provável se aproxima: a franquia deverá ir para uma cidade mais rentável e lucrativa.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Chris Graythen / Getty Images

Ponto Verde na Floresta de Concreto

Um garoto californiano, acostumado com um clima maravilhoso e com uma praia sempre a disposição, cruzou os EUA e aterrissou em New York, cidade cosmopolita, megalópole e assustadora. Ser jogador de um dos times locais não é tarefa fácil; ser quarterback de um dos dois times locais que disputam a NFL, menos ainda. Para Mark Sanchez, QB do New York Jets, a dificuldade foi ainda maior, pois em seu primeiro ano na liga ele estava armando as jogadas de ataque do alviverde.

Em 2009 os Jets chegaram longe, não desperdiçaram chances e foram à decisão da Conferência Americana – vitória do Indianapolis Colts. Sanchez já estava com uma imagem consolidada e experiente no relacionamento com a mídia nova-iorquina. Em alguns instantes ele demonstrava insegurança, típico de um atleta novato. Junto no pacote, porém, sobrevinham traços de maturidade e ações responsáveis.

Jogo após jogo o QB foi adquirindo mais conhecimento e extirpou o mau para manter o agradável. Quando mais a temporada se aproximava do final, mais Sanchez desempenhava seu papel com desenvoltura. Muitos acham exagero todo esse alvoroço em cima do QB e, por mais que eu não concorde, alguns acham ele supervalorizado.

Numa recente pesquisa feita pela revista Sports Illustraded, com 299 jogadores em atividade na NFL, 5% deles votaram em Sanchez como o jogador da liga mais supervalorizado (aquele que é avaliado acima do que realmente é capaz) – na frente dele ficou o QB do Dallas Cowboys, Tony Romo, com 7% dos votos e Terrell Owens, WR do Cincinnati Bengals, com 14% dos votos.

O desdém vem com uma ponta de inveja. O descendente de mexicano tem apenas 24 anos de idade e comanda uma tradicional franquia que está ávida por um título – o último veio em 1968-69 no Super Bowl III. Fora os atributos dentro de campo com os pads no corpo, ele construiu uma imagem alternativa que começou numa atitude arriscada, entretanto a proposta era irrecusável.

Sempre quando comenta sobre o ensaio fotográfico para a revista GQ, Sanchez não menciona os honorários, mas sim a chance de ser fotografado ao lado da modelo Hilary Rhoda. Ele não se preocupou com as roupas que iria usar, só queria fazer o trabalho proposto e pronto!


As fotos trouxeram, naturalmente, dois resultados: o positivo e o negativo. Ruim para o QB foi chegar no vestiário e ouvir seus companheiros de time começarem a contar piada pelas poses, caras e feições que Sanchez fez para tirar as fotos – a zuação foi grande. Bom para o QB foi a aceitação do público e a atenção adquirida por empresas publicitárias, interessadas no perfil jovem, carismático e atraente do jogador.

Logo apareceram muitas ofertas. Algumas foram recusadas porque os trabalhos paralelos iriam afetar seu objetivo principal: jogar football. Os que permitiam uma harmonização saudável foram aceitos. Hoje Sanchez é garoto propaganda de grandes marcas como Verizon (telecomunicações), Toyota, Nike e Pepsi – sua projeção de ganho em 2010 somente com comerciais gira em torno dos 600 mil dólares; Peyton Manning, QB dos Colts, por exemplo, deve arrecadar cerca de 15 milhões de dólares neste ano só com marketing.

A imagem do camisa 6 dos Jets está cada vez mais bem quista. Suas aparições na TV não se resumem a comerciais. Nos programas esportivos ele é destaque, sendo entrevistado e pauta principal de reportagens especiais. Além disso, ele fez no mês de abril deste ano uma pequena aparição ao lado da atriz Tina Fey ("30 Rock") no Saturday Night Live. Sempre é convidado para participar de outros programas que não sejam sobre football e há três semanas atrás foi convidado do tradicional show matinal da TV ABC “Live! With Regis and Kelly”

Sem contar que na pré-temporada os Jets foram os protagonistas da série “Hard Knocks” do canal HBO, que filma os bastidores de equipes da NFL. Após a primeira rodada de 2010, o título do seriado “atacou” o time. Os Jets perderam em casa para o Baltimore Ravens (10 a 9) e Sanchez passou apenas para 74 jardas.

Uma enxurrada de críticas se direcionou ao elenco, porém focadas em Sanchez. No jogo da semana 2, contra o New England Patriots, a resposta veio: 21 passes completos de 30 (70%) para 220 jardas e 3 touchdowns. Aqui Sanchez mostra um poder de recuperação excelente que o ajudaria mais pra frente.


Após uma vexatória derrota em casa (9 a 0) para o Green Bay Packers na semana 8, NYJ viajou para Detroit e os Lions complicaram bastante o jogo. 3 minutos restavam para o fim e os Lions venciam por 20 a 10. Então Sanchez marca um TD num sneak e lidera o time num drive de 9 jogadas para um FG de 36 jardas de Nick Folk. O jogo vai para a prorrogação e nela os Jets começam no ataque em sua própria jarda 32. Mark avança sua equipe até a jarda 12 de Detroit e Nick Folk converte o FG da vitória de 30 jardas. Essa foi a partida na qual Sanchez conseguiu o maior número de jardas pelo passe em sua careira: 336.

No jogo da semana seguinte o adversário era o Cleveland Browns, também fora de casa. Os Browns estavam motivados por vitórias seguidas em cima do New Orleans Saints e dos Patriots. Esse foi mais um jogo que foi para a prorrogação e resultou em mais uma vitória dos Jets. Sanchez terminou o jogo com 299 jardas e 2 TD´s. Se a defesa dos Browns conseguiu frear Drew Brees (Saints) e Tom Brady (Patriots), não teve o mesmo sucesso contra Sanchez.

De desafio em desafio os Jets caminham rumo ao Super Bowl. O próximo é novamente os Patriots e o jogo é em New England na próxima segunda (6). Depois a tabela aponta para outros dois jogos fora de casa: contra Pittsburgh e contra Chicago. Tudo serve como um teste de amadurecimento. Vencer de virada times em seus domínios merece elogios e elevam a moral do elenco. Agora a tarefa é superar o arqui-rival, empatado com NY na primeira colocação da Divisão Leste da Conferência Americana (9v-2d). Em três duelos contra Brady, Sanchez venceu 2.



(GL)
Escrito por João da Paz


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