Vince Lombardi, Super Bowl e o Troféu

Ele está imortalizado em várias plataformas: uma bela estátua na entrada principal do Lambeau Field (foto acima), estádio do Green Bay Packers; uma peça de teatro na Broadway, New York, chamada Lombardi, um documentário produzido pelo canal HBO, um filme que está programado para ter sua estreia na semana do Pro Bowl de 2012...

Esse filme, produzido por uma divisão da rede ESPN, irá sintetizar o período de maior importância da vida de Lombardi: os anos em Green Bay, responsáveis por fazer dele um ícone na história do football e da NFL. Iniciou seus trabalhos transformando uma equipe perdedora vinda do pior retrospecto da franquia em um campeonato (1v – 10d – 1e em 1958) num time vencedor (7v – 5d em 1959), ganhando o título de Treinador do Ano na sua primeira temporada na equipe.

A franquia Packers, fundada em 1919 e que até então detinha 6 títulos da antiga NFL, voltou a ser competitiva. Em 1960 o time já disputava a final da NFL e em 1961 ganhou o título. Sob o comando de Lombardi, os Packers conquistaram 5 títulos da antiga NFL e 2 Super Bowls – os dois primeiros. O filme promete captar todos estes momentos e o projeto foi entregue ao roterista Eric Roth (de Forrest Gump, de O Curioso Caso de Benjamim Button, entre outros); o ator Robert De Niro fará o papel de Lombardi (Roth e De Niro já trabalharam juntos em O Bom Pastor).

Assim o público em geral conhecerá quem é esta figura Vince Lombardi e porquê seu nome está estampado no troféu entregue ao campeão do Super Bowl. O registro no objeto platinado é a maior das honrarias, concedida pelo comissário Pete Rozelle (no cargo de 1960 a 1989) três dias após o falecimento de Lombardi no dia 3 de Setembro de 1970.

O troféu já existia desde 1967 e tinha escrito nele “World Professional Football Champions”. O formato é o mesmo e só outra modificação teve em relação ao original: antes da fusão da NFL com a AFL, o logo das duas ligas aparecia na base, substituída depois pelo símbolo atual da NFL.

A ideia da criação do troféu surgiu em 1966 numa conversa entre Rozelle e Oscar Riedner, então vice presidente da Tiffany & Co., uma das mais famosas joalheiras do mundo. Riedner fez o esboço original num guardanapo enquanto ambos lanchavam em um restaurante. O conceito foi prontamente aceito e até hoje ele é fabricado pela Tiffany na fábrica localizada na cidade de Parsippany, estado de New Jersey.


O método de preparação é o mesmo, tudo feito à mão. É utilizada a prata mais pura possível, conhecida por “prata de lei” e o processo dura cerca de 3 dias. Steve Leicht foi o artesão que cuidou do troféu deste ano (foto acima). Na verdade dos dois troféus, já que um é feito em caso de emergências (queda, dano na comemoração – nunca foi preciso usá-lo). As manchas após a entrega do troféu ao campeão são retiradas quando ele volta à fabrica para colocar o resultado do jogo e receber um novo polimento.

Todos os 44 troféus entregues são originais e únicos, aumentando sua representatividade. A NFL busca, a partir desta temporada, valorizar ainda mais o cobiçado objeto. Começando pelo Super Bowl em Dallas, todos os logos das futuras decisões terão o troféu em destaque.

Quando o time recebe em definitivo o troféu, pode fazer o que quiser com ele. Jerry Jones, dono do Dallas Cowboys, mantêm os 5 que a franquia possui guardados em seu escritório e os coloca no pátio do seu novo estádio em algumas ocasiões. O Pittsburgh Steelers, detentor de 6, também os deixa em lugar seguro, mas faz questão de mostrar aos fãs as peças. Antes de começar a atual temporada, eles estiveram expostos no museu esportivo da cidade por apenas 7 dias – houve um acréscimo de 15 mil visitantes neste período.

Mais uma conquista dará aos Steelers um aumento em sua robustez, ficando mais à frente em números de conquistas. Se o Green Bay Packers vencer, o troféu voltará à sua origem, dentro de um tempo especial para aquele que sempre será lembrado quando um dos maiores eventos esportivos for mencionado. De qualquer forma, este Super Bowl XLV (45) será especial.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Robert Sciarrino / Star-Ledge

O Tempo é um Percurso

Invalidez é um termo forte, mas qual é o atual significado de Richard Hamilton no Detroit Pistons? Nos últimos seis jogos, por decisão do treinador John Kuester, ele sequer entrou um minuto em quadra. Está isolado, um líder inativo. Depois de anos gloriosos sua cota com o time acabou. Chegou a hora de partir e renovar as energias.

Até a data limite para trocas (24/02) Hamilton estará em outra cidade, vestindo outro uniforme. Sua relação com a nova comissão técnica não tem sido das melhores e fica claro que ele não faz parte do plano de reconstrução do elenco. Rumores registravam que poderia ser envolvido numa troca com dois times (Denver Nuggets e New Jersey Nets), porém o dono dos Nets, Mikhail Prokhorov, disse que não tem mais interesses em Carmelo Anthony (Nuggets). Com o principal negociante fora, o futuro de Hamilton é incerto.

Triste é vê-lo num semblante tão melancólico. Sua carreira é recheada de vitórias, com resultados e números que não imaginava alcançar. Veio do nada, chegou ao topo e agora o declínio o chama. Este é o final de carreira de um ícone da NBA do século XXI, na última estrada que o levará ao salão onde os grandes se encontram.

A Perspectiva do Tempo

A iniciação de Hamilton no basquete foi tarde. Aos 14 anos começou a jogar pelo time da sua escola e imediatamente chamou a atenção pelo controle de bola acima da média. Alguns campeonatos depois percebia outras características próprias do seu jogo: agilidade e rápido movimento no arremesso. Tudo isso moldado na sua cidade natal de Coatesville, Filadélfia.

Sua fama se espalhou e universidades acompanhavam os passos dele. O adolescente foi ganhando confiança e dizia aos colegas: “Um dia vou jogar na NBA”. Claro que eles riram; "Como um magricela do interior do estado da Pensilvânia vai jogar na maior liga do mundo?". Sua resposta: “Irei surpreender todos vocês”. Seu pai acreditava e fazia Hamilton participar de todas as clínicas de basquete possíveis para aprimorar seu jogo.

Quando o momento de escolher a universidade se apresentou, pensamentos negativos surgiram. Junto vieram as energias positivas e a confusão tomou conta da sua cabeça. A Connecticut era a que mais tinha lhe agradado, apesar de não ter gostado do ambiente do campus. Porém ao ver um jogo in loco, sua posição se firmou e pensou: “Se eu não chegar na NBA, isto será o máximo que eu posso conseguir”.

Num primeiro instante aqueles comentários negativos o atormentavam (“Se eu não chegar na NBA...”). Ao entrar no time da UConn a responsabilidade aumentou, já que ele iria substituir Ray Allen, muito popular com os Huskies. Inesperado ou não, Hamilton administrou bem a situação e foi o cestinha do time no ano de novato. A adaptação foi boa e as conquistas despontavam: duas vezes seguida MVP da Conferência Big East, campeão e MVP do Final Four – 1999.



O Equilíbrio do Tempo

No mesmo ano que ganhou o título da NCAA, Hamilton entra no draft. Com a sétima escolha, o Washington Wizards fica com o jogador e o duvidoso se concretiza. A satisfação bateu forte; primeira reação. Mas algo passava por sua mente, algo lhe dizia: “você pode mais, basta se esforçar”.

Estar na NBA é um sonho e ele queria transformá-lo em possibilidades de novos horizontes. Relembrando sua caminhada o fez perceber que o acaso não traria nada, era necessário empenho e trabalho para ser um nome de destaque entre os melhores.

Washington foi um aprendizado. Muitas mudanças no elenco, treinadores... até o dono resolveu jogar! Hamilton teve o prazer de ser companheiro de Michael Jordan e dividir a quadra com o melhor jogador de basquete de todos os tempos. Jordan tinha em Hamilton um companheiro fiel no desenvolvimento da equipe e ele era o principal rival no duelo de arremessos após os treinos. Em uma oportunidade os dois duelavam valendo US$ 100 doláres a cesta convertida. Hamilton ganhava por US$ 1000 doláres e o ônibus dos jogadores estava partindo. Jordan deu uma ordem para esperar um pouco. Uma hora depois o ônibus foi autorizado a ir; Jordan reverteu o placar e venceu o duelo.

Aquilo era didático para Hamilton; tudo observado nos minuciosos detalhes. Em algum momento da sua carreira ele iria aplicar todo o conhecimento absorvido. Isto aconteceu quando ele foi transferido para o Detroit Pistons em 2002.

O Deleite no Tempo

Quando a responsabilidade aumentou, com ela veio a diversão e a alegria. Junto com outras estrelas, Hamilton fez história em Detroit. Foram incríveis seis finas seguidas da Conferência Leste (de 2003 a 2008) e um título da NBA (2004).


O camisa 32 tornou-se um dos favoritos dos fãs, assim como sua máscara, usada com o propósito de proteger o nariz de três fraturas ocorridas na temporada 2003-04. Mesmo não precisando usá-la após o reparo ficar completo, Hamilton continuou com a máscara que virou marca registrada, símbolo de dedicação. Muitos torcedores queriam comprar, mas o produto não estava à venda.

Por oito temporadas consecutivas ele foi o cestinha dos Pistons. Em 2008 ultrapassou o lendário Isiah Thomas e assumiu o posto de maior pontuador da história do clube. Participou de três Jogo das Estrelas (2006, 2007 e 2008). Foi destaque, uma das faces da NBA e desfrutou todas as coisas que o sucesso lhe proporcionou.

Mas não fez isso sozinho. Sempre esteve rodeado de pessoas, aquelas que acreditaram nele e se opuseram as críticas que ouvia na adolescência - diziam que ele não conseguiria, lembra? Lá estava Hamilton aproveitando o máximo que podia: “Estar na associação permite que eu conheça todo tipo de gente e visite lugares incríveis. Quero que meus amigos desfrutem disto também”.

O Melhor do Tempo Ruim

Hoje o que existe são memórias, lembranças da época de glórias e sucesso. O ostracismo vivido no presente não deve machucar o que está por vir. Próximo de completar 33 anos (14 de Fevereiro) Hamilton pode ajudar muito time na NBA, aplicando sua experiência e exercendo o que aprendeu.

Impossível imaginar o que passa no seu íntimo, aceitar que o competitivo jogador de ontem não é utilizado com frequência que deseja. Entretanto os dias passam para todos, isto é fundamental que se entenda. Um breve olhar para trás não o transformará em estátua de sal, mas lhe fará lembrar a gloriosa e incrível corrida que percorreu num trajeto não em círculos e sim direcionado para o norte.

A idade bate à porta, o cansaço entra sem ser convidado e a fadiga faz morada. Lutar contra estas coisas é inútil. Sábio é lidar com elas, usar a seu favor. Importante é avançar, ser positivo e progressista, porque os ponteiros não param de contar os segundos que passam. Já foi dito por aí:


O tempo é um ponto de vista dos relógios
Mário Quintana


(GL)
Escrito por João da Paz



© 1 Reuters

Nobre Intruso

Aaron Rodgers é compreensivo:

Sei que os grandes quarterbacks são lembrados por vencerem jogos relevantes. Se você quer ser mencionado entre os mais importantes jogadores, precisa ganhar duelos de playoffs.”

Em seis anos de carreira, três como titular, o QB do Green Bay Packers até que tem um bom retrospecto na pós-temporada: 2 vitórias e 1 derrota. O confronto do ano passado contra o Arizona Cardinals é um concreto exemplo da imagem que se cria após um resultado, aquela que desmoraliza ou idolatra um QB.

Na ocasião, um jogo fora de casa, Rodgers apresentou uma performance primorosa: 423 jardas para 4 TD´s. Mas aí veio a prorrogação e um fumble que resultou no TD da vitória dos Cardinals. O saldo ficou negativo para o camisa 12, marcado pela derrota e pela falha na hora decisiva.

Como definir se um QB faz parte da elite? O que qualifica um para fazer parte do seleto grupo? Vitórias em jogos de playoffs? Títulos de Conferência? Super Bowl? Mesmo que Rodgers atinja o ponto máximo do sucesso sempre haverá alguém para ressaltar algo que ele não conseguiu. Isto é certo, pois o mesmo acontece com outros QB´s.

Jim Kelly levou o Buffalo Bills a quatro Super Bowls seguidos (1991, 92, 93 e 94); perdeu todos. Na decisão de 94 (contra o Dallas Cowboys) completou 31 passes, marca somente superada por Tom Brady com o New England Patriots em 2004 (32 passes). Kelly, em Super Bowls, é o segundo com maior número de passes completos – atrás de Joe Montana. O legado dele é manchado por não vencer um?

E Dan Marino? O terceiro QB que mais venceu partidas na NFL disputou um só Super Bowl (1985, perdeu). Nem isso desvaloriza sua brilhante carreira. Quem afirma que Trent Dilfer (campeão em 2001 com o Baltimore Ravens) e Brad Johnson (campeão em 2003 com o Tampa Bay Buccaneers) são melhores jogadores que Kelly e/ou Marino? O sucesso de uns não tira o mérito dos outros.

Logo uma participação na grande final não credencia um jogador ao estrelato. Nomes como Rex Grossman (Chcago Bears, 2007), Jake Delhomme (Carolina Panthers, 2004), Rich Gannon (Oakland Raiders, 2003) entre outros, jogaram um Super Bowl e não é por esta razão que pertencem a elite dos QB´s.

Contudo o reconhecimento transmitido pela maioria da imprensa, consequentemente digerido pelos torcedores, gira em torno de vencer jogos de playoffs e, claro, ganhar um Super Bowl. Uma triagem feita na mídia leva a um quarteto que consideram elite: Brady, Peyton Manning Indianapolis (Indianapolis Colts), Ben Roethlisberger (Pittsburgh Steelers) e Drew Brees (New Orleans Saints) – todos possuem um anel de campeão. Rodgers, apesar de boas atuações jogo após jogo, não faz parte da lista. Vale lembrar que há os que o colocam nessa categoria.

Em dois jogos neste ano, Rodgers levou os Packers à vitória – ambos fora de casa. Em cada um deles apresentou números fantásticos. Somando as duas partidas (contra o Philadelphia Eagles e Atlanta Falcons) seu índice de passe é de excepcionais 134.3 com 6 touchdowns. Uma estatística evidencia o quanto Rodgers está num nível diferenciado: 33 passes completos de 38 tentados contra quatro ou mais jogadores o pressionando.

Contra os Falcons, mais precisamente, Aaron fez excelentes jogadas e por que elas não são suficientes para elevar seu status? Evidente que não deve ser posto num patamar acima do racional, mas sua qualidade aflorou de sobremaneira em Atlanta.

4 touchdowns dos Packers tiveram drives acima ou iguais a 80 jardas (81, 92, 80 e 80). Ele completou todos os 10 passes que tentou em terceira descida. Mais do que isto foi sua mobilidade para encontrar sempre um receiver aberto, desviando dos defensores e lançando a bola sem estar numa zona confortável.



Neste vídeo acima é possível ver isto. O S #25 William Moore vai de encontro a Rodgers sem nenhum bloqueio. Rodgers evita o sack e procura alguém livre no meio do campo [:37]. Não encontra ninguém e olha para a lateral; lá está James Jones. A bola chega perfeitamente nas mãos do #89, mesmo Rodgers lançando com o pé de apoio trocado.

O próximo desafio serão os arqui-rivais Bears e o frio de Chicago. Caso perca, Rodgers terá muitos críticos afirmando que ele não “venceu o jogo mais importante”. É sempre assim, encontram falhas para desmerecer o que foi conquistado, escolhendo o lado negativo da equação. Os Packers podem perder a final da Conferência Nacional e Rodgers ser o responsável maior pelo revés; nada ocultará o que fez até agora.

Talvez ele ainda não faça parte da chamada elite de QB´s da atual NFL, mas toda realeza tem um intruso.

Vai ver ele não tem sangue azul.


(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Kevin C. Cox / Getty Images

Um Maluco no Pedaço

Quem vai salvar os Clippers? Uma das franquias mais ridicularizadas dos esportes americanos até que apresenta boas performances em quadra na temporada 2010-11: são 13 vitórias em 37 jogos e 5 delas foram contra fortes equipes (Oklahoma, San Antonio, Denver, Chicago e Miami). O problema maior, porém, está na administração e condução do clube, comandado pelo magnata Donald Sterling (foto acima).

Neste começo de ano surgiram novas denúncias do péssimo tratamento dele com seus jogadores. A mais grave relata a visita de mulheres ao vestiário. Elas comentavam sobre o “belo corpo destes afro-americanos” bem na frente de Sterling. Sua omissão decorria de dois fatos: ele que convidou as meninas para irem até lá e seu comportamento perante os afro-americanos nunca foi nobre.

Isso aconteceu no período que o lendário Elgin Baylor, ex-jogador do Los Angeles Lakers e 11 vezes participante do Jogo das Estrelas, exercia o cargo de Vice-Presidente de Basquete – entre 1986 e 2008. Baylor, ao ser demitido, prontamente processou Sterling por preconceito trabalhista, alegando que, pela idade e cor da sua pele, não recebia um salário digno. Histórias de destrato perante atletas afro-americanos dos Clippers foram usadas como argumentos de acusação e tais relatos são repugnantes.

Certa feita, Sterling afirmou que estava “oferecendo muito dinheiro por um pobre garoto negro” – referência a Danny Manning, astro da Universidade Kansas e 1ᵃ escolha no draft de 1988 (Clippers). Em outra ocasião Sterling disse que Baylor queria fazer do seu clube uma fazenda americana “... garotos pobres do sul comandados por um treinador branco...

Mesmo com estarrecedoras declarações arquivadas em juízo, a NBA representada pelo comissário David Stern nada fez. Sterling infelizmente mostra-se constante na sua loucura e atitudes preconceituosas não são apenas vista nos Clippers. No ramo imobiliário, onde construiu e constrói sua fortuna, Donald proferiu comentários racistas da mesma gravidade, mas neste caso o poder judiciário dos EUA não se calou.

Em 2009 o Departamento de Justiça do governo americano intimou Sterling a pagar uma multa de US$ 2.7 milhões por procedimentos preconceituosos ao negociar seus apartamentos com possíveis inquilinos. Ele não queria alugar suas propriedades para afro-americanos (...fedem e atraem vermes...*) e hispânicos (...fumam, bebem e não fazem mais nada...*). Essa condenação foi a maior quantia financeira já obtida pelo Departamento de Justiça em casos de discriminação.

O dinheiro foi pago sem muito esforço. Mansões localizadas no “triângulo platinado” – formado por Bel-Air e Holmby Hills (bairros de Los Angeles) e pela cidade de Beverly Hills – estão no poder de Sterling. Em 2000, com 63 anos de idade, quase metade dos imóveis de Beverly Hills pertenciam a ele e deste lucrativo negócio saiu a grana para comprar duas franquias da NBA.

Em maio de 1979 um grande amigo que também era dono de inúmeros imóveis ao redor de Los Angeles, Jerry Buss, estava prestes a adquirir a franquia Lakers, contudo faltava pouco menos de US$ 3 milhões de dólares para efetuar a transação. Sterling resolveu ajudar e ao invés de emprestar dinheiro ao colega, comprou 11 apartamentos na cidade de Santa Monica que eram de Jerry, que assim pôde finalizar a aquisição do clube.

Depois de dois anos de muita insistência do amigo Buss, queria vê-lo dono de uma franquia na associação, Sterling juntou US$ 13 milhões e comprou os Clippers – então com sede na cidade de San Diego. Em 1984 o time mudou para Los Angeles sem aprovação da NBA, que multou o clube em US$ 24 milhões. Sterling respondeu com um processo contra a NBA no valor de US$ 100 milhões e ambos entraram num acordo: os Clippers ficam em LA, mas uma multa será paga de US$ 6 milhões.

Assim aconteceu e estavam na mesma cidade os dois amigos novamente dividindo o mesmo campo de trabalho. Os apartamentos “fontes de verdinhas” não foram abandonados, só tiveram que ceder um espaço na agenda para uma nova atividade. Contudo um foi bem sucedido (Buss) e outro também (Sterling) – quer dizer, nem tanto.

Os Lakers se tornaram sinônimo de títulos e vitórias. Os Clippers se tornaram sinônimo de chacotas e derrotas. O clube tricolor de LA não obtém resultados positivos na tabela de classificação, já na tabela de dívidas o resultado não é negativo: é uma de três franquias da NBA que não tem saldo devedor (Knicks e Pistons) segundo avaliação da revista Forbes [Ed. Setembro/09]. Os relatórios de recursos do clube só conhecem a cor azul.

Quando o torcedor recebe essa informação fica indignado: como pode um clube ter dinheiro e não gastar? Pois é, bem vindo ao “mundo Clippers”. Todos os treinadores que passaram pelo clube nos últimos 30 anos sabem desta conversa. Mike Dunleavy, técnico de 2003 a 2010, pondera que a preocupação maior de Sterling é lucrar. Os dois conversavam sobre um jogador e o dono dizia que logo entraria em contato para resolver a situação – o logo nunca chegava porque os atletas requisitados eram sempre de alto valor.

Se for do naipe de Ryan Gomes e Randy Foye, então está tudo certo. Numa recente entrevista coletiva ao comentar sobre o time desta temporada, Sterling soltou esta pérola: “Caso eu realmente mandasse, não teria contratado Gomes e... como é o nome do outro cara?” e tinha espaço para outra preciosidade: “Juro que nunca ouvi falar destes jogadores, mas e se o treinador disse que precisava deles?”.

O nível de preocupação aumenta ao ver com a camisa dos Clippers um brilhante jogador de nome Blake Griffin, responsável por aumento de público no Staples Center e de jogos do time transmitidos na TV, fadado ao papel de turista. Alguns anos vão passar e na primeira oportunidade ele vai sair para um time competitivo; a não ser que Sterling resolva gastar o seu dinheiro e montar um elenco vitorioso. Eis um sinal dos tempos!

Ou o mundo acaba em 2012 ou Griffin assina uma extensão de contrato. Qualquer destas ações irá salvar os Clippers.


(GL)
Escrito por João da Paz


*Frases contidas na ação citada

© 1 Getty Images

E Se o New York Jets Fosse Uma Pessoa: Como Agir no Momento da Provação


Ufa!

Passamos num grande teste! Certo que parte da pressão exercida sobre nós foi imputada... bem, por nós mesmos. Mas o alívio de vencer Peyton Manning e o Indianapolis Colts fora de casa é gratificante. Ainda considerando o que me cercou nesta temporada, declarações e mais declarações sobre o potencial do elenco, com a afirmação do meu treinador para “ajudar”: Super Bowl ou Fracasso.

Ah Rex Ryan, esse cara é uma figura, diz aí? Bem sabia ao terminar a reunião de seis horas na cidade de Baltimore em 2009, onde ele era o coordenador defensivo dos Ravens, que estava me comprometendo a chegar a outro nível. A atitude dele e seu método de trabalho trariam aos Jets uma nova maneira de encarar o jogo, de administrar crises e sucessos. Estava me entrelaçando com um bom problema.

Penso comigo porque fui aceitar o convite da HBO para filmar minha preparação para este campeonato. Sabia que o essencial eles não mostrariam: os extenuantes exercícios, as variações táticas defensivas e ofensivas... Claro que o editor do programa “Hard Knocks” procurou o lado alternativo e escolheu transmitir imagens e cenas curiosas: meu QB pedindo uma pizza, meus atletas usando um dispositivo que insinuava um pervertido gesto masculino... Além da abundante confiança, confundida por arrogância e prepotência.

Tudo isso me veio à mente contra os Colts no sábado passado. Restavam 53 segundos para o término da partida e precisava de um field goal para vencer (perdia por 14 a 16). Antonio Cromartie pegou a bola dentro da minha end zone e retornou o punt em 47 jardas. Numa boa posição, agora era a vez do quarterback Mark Sanchez aparecer.

Ele não vinha numa boa sequência. Estava vivo graças a 2 TD´s do RB LaDainian Tomlinson. Porém o jogo corrido não era opção, o jogo aéreo tinha que entrar em cena. Em cinco jogadas, quatro delas na formação shotgun (propicia para o passe), cheguei até a jarda de número 14 dos Colts, ótima posição para o kicker Nick Folk marcar os três pontos da vitória.

Antes do chute, quero destacar o que aconteceu no lance anterior. Era uma 2ᵃ descida para 8, a 32 jardas da end zone. O coordenador ofensivo Brian Schottenheimer programava uma jogada quando o WR Braylon Edwards pediu a bola para ele, aproveitando a diferença de altura em relação ao seu marcador, o CB Jacob Lacey. Sanchez chamou a jogada ideal e Brian aceitou. Não era nada extraordinário; bastava lançar uma bola alta para Edwards que ele fazia o resto (e fez!) – veja vídeo abaixo.



Então Folk converteu o FG e vencemos o jogo. Foram instantes de apreensão porque não queria falhar. Já pensou? Imagina se eu saio perdedor? A pressão exagerada exercida sobre mim viria me pegar de sobreaviso. Talvez não tivesse alternativa a não ser assumir o erro. Mas será que minha confiança transformaria em arrogância e prepotência? É, acho que teria admitir o fracasso.

Bom! Graças ao trabalho duro pude corresponder, pude superar a situação adversa. As palavras motivacionais acerca do clube não teriam valor algum com a derrota. O resultado positivo veio através de um desempenho estrelar, algo que não é adquirido repentinamente. As conversas que resultavam em “Super Bowl ou Fracasso” surgiam por haver uma possibilidade de alcançar o objetivo maior. Há em mim a realização de poder vencer qualquer um e em 53 segundos foi mostrado a toda NFL o quanto longe posso ir.

Não há um dia no qual a inveja e o olhar desacreditado me deixam em paz. Constantemente sofro ataques daqueles que não tem personalidade para examinar as próprias habilidades e declarar sobre o que é capaz. Sei dos meus limites, entretanto sei muito bem onde posso chegar – e não tenho medo de me posicionar! Posso me arrebentar mais pra frente, só que não perco a oportunidade. Quem quiser fazer média sinta-se à vontade; não preciso disto, muito obrigado.

O problema real é controlar meu treinador. Ah Rex Ryan! Mal chegamos no Divisional e ouvi ele cutucar o nosso próximo adversário: New England Patriots. Disse que Bill Belichick (treinador) é isto, que Tom Brady (QB) é aquilo... Não tem jeito. Mas eu amo Ryan, não existe um cara que se dedica mais ao clube. Quem está no dia-a-dia com os jogadores? Ele. Quem estuda o adversário minuciosamente? Ele. Quem tem um discurso contagiante e energizador? Ele. Ryan conhece cada um dos indivíduos que estão sob seu comando, quem sou eu para contrariar? Se ele entende que o grupo aguenta a pressão, que assim seja. Até eu vou na onda e digo que este tal de Bill (trapaceiro) Belichick e o Justin Bieber, quer dizer, Tom Brady são de nada, conquistaram tudo pela obra do acaso.

O que me dá uma alegria sem igual não são os fantásticos momentos vividos nesta temporada, mas sim aqueles 53 segundos. Pra mim ficou explícito o quanto podemos superar qualquer obstáculo; um comportamento exemplar. Livros, palestras e discursos não são plataformas suficientes para suportar tamanha vitrine motivacional. Quem presenciou sabe do que estou falando.

Para manter a mesma linguagem interna e atiçar o coreto, só tenho uma coisa a dizer:

Próximo!


(GL)
Escrito por João da Paz