Recessão Econômica e Pittsburgh: À espera de um milagre

O arco-íris é sinal de DEUS. Mais um meio d’Ele se comunicar com a humanidade. Encantamento que paralisa quem vê de perto, nem que seja por um pequeno instante. O céu de Pittsburgh foi pano de fundo para o fenômeno e a bela imagem foi registrada cruzando o PNC Park, estádio dos Pirates, time da MLB que representa a cidade.

O segundo maior município do estado da Pensilvânia, Pittsburgh é símbolo de grande representatividade na conhecida região do “cinturão da manufatura” – hoje nomeada de “cinturão da ferrugem”. Quando as indústrias de bens primários funcionavam a todo vapor e elevavam a economia da região, as metalúrgicas e siderurgias da cidade eram o grande destaque. Hoje as inúmeras fábricas se reduziram a poucas e apesar de existirem algumas em atividade, a principal fama do lugar está perpetuada no apelido do time de football: Steelers, grande orgulho dos moradores.

Em 1980 a ferrugem começou a aparecer e a crise atingiu forte. Na década anterior, um em cada três empregos era no setor da manufatura; no começo dos anos 80 passou a ser um em cada quatro. Em 1980 os metalúrgicos eram 25.3% da massa trabalhadora da cidade; em 1955 eram 41.8%. Buscaram-se então alternativas para sair da adversa situação que estava enfrentando.

Pittsburgh agiu de forma diferente em relação a outras cidades da região que sofreram igual baque financeiro no mesmo período. Mesmo com inevitáveis perdas, os negócios migraram de setor e a força da economia local passou a ser sustentada por três pilares: saúde, serviços e universidade. Isto ficou bem característico nos anos 90 e contribuiu imensamente para encarar a grave crise do final da década seguinte.

A Grande Recessão de 2008 foi um golpe fatal para muitos municípios do “cinturão da ferrugem” que já viam cambaleando e sofreram um ultimato nas respectivas vulneráveis economias. Pittsburgh foi atingida de leve e o grande sinal foi a queda na população registrada no censo americano do ano passado: -8.6%. Contudo, o diferenciado mercado financeiro segurou firme a cidade e um aspecto mostra como ela saiu bem: enquanto os valores dos imóveis caiam drasticamente na região e em todo país, Pittsburgh viu um aumento de 2%.

Assim aconteceu graças à diversificada economia que manteve a cidade estável e competitiva. O presidente dos EUA, Barack Obama, reconheceu este feito e declarou num discurso no dia 8 de Setembro de 2009: “Pittsburgh é um exemplo sólido de como criar novos empregos e novas indústrias enquanto move para a economia do século XXI”. Dias depois Pittsburgh foi sede da reunião do G-20, grupo de 19 países mais a União Europeia, para discutir o mercado financeiro e a economia mundial. Inicialmente era para ser realizado em New York, mas uma mudança teve que ocorrer e Obama escolheu Pittsburgh – eleita recentemente pelas revistas Forbes (americana) e The Economist (inglesa) como a cidade mais habitável dos Estados Unidos.


Uma tremenda reviravolta aconteceu e muitos devem copiar a lição dada. Enquanto isso um quadro de futilidade marca o lugar. Os Pirates vão de mal a pior e são alvos de piada e ignorados por muitos. Chamam de a “Cidade dos Campeões” numa referência aos Steelers e aos Penguins (NHL). Por mais que o time de beisebol tenha suas conquistas no passado, o que fica no presente são as irrisórias recentes campanhas. Desde 1992 que os Pirates não terminam uma temporada com mais vitórias que derrotas, maior seca entre todos os esportes americanos profissionais. Quando atingiu a marca de 50 jogos nesta temporada 2011, logo surgiu um alvoroço sobre a possibilidade da quebra deste banal recorde. Bem...

São duas derrotas seguidas e o time agora está com 24v e 28d. Porém a atual série de jogos é fora de casa (em New York contra os Mets) e o clube tem um ótimo aproveitamento como visitante: até agora foram 7 séries vitoriosas em 9 oportunidades. São mais séries vitoriosas fora de casa do que juntando as campanhas de 2009 e 2010.

As derrotas são tão comuns que até o torcedor do clube tira proveito. Um bar esportivo em Kennedy, cidade a 20 minutos de Pittsburgh, decidiu fazer a seguinte promoção: “Se os Pirates perderem, vocês ganham”. Consistia em cervejas a cinco centavos na noite que os Pirates fossem derrotados. A diretoria da franquia soube e resolveu lançar um boicote contra o bar; a dona encerrou a ação. O cômico – para não dizer trágico – foi este trecho do e-mail que uma executiva do clube, Angela Criscella, enviou para o estabelecimento: “Uma piada aqui e outra ali é aceitável, mas criar um negócio torcendo contra o time local é ridículo”.

O mais otimista dos torcedores torna-se cético perante o cenário da franquia. Produtora de grandes talentos, porém incapaz de mantê-los por não conseguir competir com o dinheiro de gente grande que circula na MLB. Mais uma janela de transferências está para fechar e os Pirates serão, mais uma vez, vendedores ao invés de compradores. Neal Huntington, diretor de beisebol, garante que não será tão certo assim, dependerá de como a equipe estará na tabela no final de Julho. Tudo indica que não será num melhor lugar que hoje, observando um horizonte raso e obscuro.

Uma esperança é aguardada e a alternativa de olhar para o alto é que resta.

Quem sabe onde dois arcos-íris apareceram ao mesmo tempo seja o palco de mais uma reviravolta miraculosa.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por Natalie Litz
© 2 Philipe Wojazer / Reuters


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Por que Dirk Nowitzki não é um jogador Top 10 da história da NBA


Na natural tendência de reagir com emoção e sem razão após um grande acontecimento, a brilhante atuação de Dirk Nowitzki no jogo 1 das finais da Conferência Oeste contra o Oklahoma City Thunder serviu, para alguns, como validação da provocativa declaração do seu treinador, Rick Carlisle, à TV ESPN na semana anterior:

Na minha opinião, ele [Nowitzki] é um jogador Top 10 da história da NBA pelo seu estilo de jogo único e como ele carregou a franquia nas costas por mais de uma década”.

Há pontos discutíveis nesta posição de Carlisle e que cria uma saudável discussão sobre o que o alemão tem feito na associação, sobre qual é a sua atual representatividade. Vamos dividir a opinião do treinador em duas partes e adentrar com mais profundidade em dois aspectos

- “Na minha opinião, ele [Nowitzki] é um jogador Top 10 da história da NBA(...)”.

O ponto chave desta frase está no “é”. Nowitzki tem 32 anos e boas temporadas de basquete o espera no futuro, o que poderá lhe colocar no status de “ser” um Top 10. Hoje, entretanto, ele nem perto chega dos melhores. Num exercício rápido é possível chegar aos seguintes nomes que com certeza estão à frente de Dirk:

Bill Russell, Dwyane Wade, Earvin “Magic” Johnson, Hakeem Olajuwon, Isiah Thomas, Kareem Abdul-Jabbar, Kevin Garnett, Kobe Bryant, Larry Bird, Michael Jordan, Moses Malone, Oscar Robertson, Paul Pierce, Shaquille O’Neal, Tim Duncan, Tony Parker, Wes Unseld, Willis Reed e Wilt Chamberlain.

O que estes jogadores acima têm em comum? Pelo menos um título e pelo menos um MVP (temporada regular ou Finais). Com uma boa defesa argumentativa e mediadores a seu favor, Nowitzki poderia estar entre os Top 20 (20º), mas a falta de uma conquista o desvaloriza neste específico tópico. Sendo assim, entendo que é difícil pra ele sequer entrar no Top 5 dos jogadores que já foram MVP mas que não ganharam um título:

Allen Iverson, Charles Barkley, Karl Malone, LeBron James e Steve Nash.

- “(...)pelo seu estilo de jogo único e como ele carregou a franquia nas costas por mais de uma década”.

Sim, um título muda tudo. Caso ganhe, estes fatores citados por Carlisle fará com que Nowitzki ganhe posições entre os Top atletas da história da NBA. No ponto de vista do treinador, essas duas características já são suficientes para estar no Top 10, porém é preciso um gesto para alterar o verdadeiro quadro: levantar a taça.


Nowitzki acredita que agora é o momento, esta é a temporada. Na super lista de agentes livres do ano passado, o alemão estava nela. Optou por ficar mais quatro anos em Dallas e assinou um contrato de US$ 80 milhões. O time buscou reforços e fez uma ótima campanha na temporada 2010-11, terminando em 3º no Oeste com 57 vitórias em 82 jogos.

Individualmente Dirk considera este campeonato como melhor da sua carreira, mesmo com números abaixo da média e mesmo incluindo 2006-07 quando foi o MVP da temporada regular com 24.6 PPJ, 8.9 RPJ e 3.4 APJ. Os Mavericks foram o primeiro do Oeste com 67 vitórias, mas perderam na primeira rodada dos playoffs para o Golden State Warriors.

A prematura eliminação contradiz a campanha da temporada anterior quando os Mavs chegaram às Finais. O Miami Heat ganhou o troféu de campeão após ser derrotado nos dois primeiros jogos da série. A super campanha no ano seguinte não é lembrada, pois a vexatória eliminação para os Warriors é mais marcante – pela primeira vez na NBA, numa série melhor de 7, que o cabeça de chave #8 derrotou o #1.

A equipe destas duas temporadas não era ruim. Tinha Devin Harris, Josh Howard, Jerry Stackhouse, entre outros. Porém uma reformulação completa entrou em ação e só permaneceram Nowitzki e Jason Terry, membros do atual elenco que estiveram em ambas campanhas mencionadas.


Com melhores jogadores ao seu redor (Tyson Chandler, Jason Kidd...) Nowitzki sente mais confiança em seu jogo e pode atuar com mais desenvoltura. Por mais que esta temporada seja inferior, em números, àquela que lhe deu o MVP (23.0 PPJ, 7.0 RPJ e 2.6 APJ), a percepção que ele tem é outra – talvez pelo formidável aproveitamento de 51.7% em arremessos de quadra, o melhor da carreira.

Nos playoffs Nowitzki melhora seus números e nesta pós-temporada não tem sido diferente. São 28.5 PPJ (2º cestinha atrás de Kevin Durant), 8.1 RPJ e 2.9 APJ. O ápice veio no jogo 1 das finais da Conferência quando uma estupenda precisão de arremessos pôde ser vista. Contando arremessos de quadra e lances livres, 39 bolas saíram das mãos de Dirk e somente três não passaram pelo aro: 12 de 15 FG e 24 de 24 em lances livres.

Rumo às Finais, Dirk compreende que esta é a oportunidade mais real que a de 2006. Ele, que acompanhou o processo de avivamento da franquia e fez parte da transformação de time ridicularizado a time respeitado, assume o papel de líder e reconhece ser a face do clube – dentro e fora de quadra. Talvez de forma indireta Nowitzki abraça o time que o escolheu para estar na linha de frente, um líder estrangeiro entre tantos outros forasteiros e americanos. Demorou a falar inglês com fluência, mas hoje sente mais firmeza ao dá uma bronca ou um incentivar companheiros.

Quem é o responsável por isso, por antever o que Nowitzki poderia entregar para franquia e mensurar seu potencial quando ainda era imaturo, atende pelo nome de Don Nelson. Na posição de treinador do Dallas em 1998 ele exigiu uma troca na noite do draft daquele ano. Sua equipe tinha a 6ª escolha e ficou com Robert “Tractor” Taylor. Três escolhas depois o Milwaukee Bucks selecionou Nowitzki e imediatamente Nelson orquestrou a troca dos novatos.

O resto é história.

Tudo o que Nowitzki fez até agora na NBA o credencia para estar na elite assim que encerrar sua carreira. Na lista dos maiores cestinhas da história ele é o atual número 23 e pode (e deve) subir mais posições. Quem chegou mais perto da realidade foi Mark Cuban, dono dos Mavs, que disse numa entrevista a uma rádio local que Nowitzki será um Top 10 assim que se aposentar.

Faltam conquistas e mais números. Top 10 hoje ele não é

Noch Nicht.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 por FlynetPictures
© 2 Tom Pennington / Getty Images
© 3 Andrew D. Bernstein / Getty Images


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PS: “Noch Nicht” significa “Ainda Não” em alemão

Recessão Econômica e Detroit: Na levada de um rapper


A Chrysler gastou US$ 9 milhões para fazer este comercial que foi pro ar durante o Super Bowl deste ano. A decisão da NFL é conhecida, entre outras coisas, pelas propagandas que são transmitidas no intervalo e essa bateu recorde: a mais longa da história do evento (2 minutos) e uma das mais caras já produzidas. O impacto foi grande para quem viu pela primeira vez e o mesmo sentimento vem quando assiste novamente.

O rapper Eminem, nascido e criado em Detroit cedeu com exclusividade, por uma quantia bem abaixo do valor real, a música “Lose Yourself” para ser usada como trilha – faixa vencedora do Oscar 2002 na categoria “Melhor Canção Original” (do filme "8 Mile - Rua das Ilusões"). Sua presença, junto com as míticas imagens e um texto emocionante, criou uma espécie de fonte motivacional para os moradores da cidade do motor.

O que eles mais precisam é isto: força para sobreviver. A indústria que mais sofreu com a Grande Recessão do final da década passada foi a automobilística e Detroit, por ser o berço automotivo dos EUA, onde a crise surgiu, sofreu com mais gravidade as consequencias. Entre as cidades americanas que no começo do século XX eram as mais proeminentes no cinturão da manufatura, Detroit tornou-se um símbolo da decadência da região que ganhou um novo apelido: cinturão da ferrugem. As indústrias partiram para lugares mais rentáveis, os empregos desapareceram e os habitantes fugiram.

O censo dos EUA de 2010 mostra o acentuado declínio da população de Detroit, que atualmente é de 713 mil. Isto dá a cidade uma posição intermediária entre as grandes metrópoles do país: 18ᵃ colocação. Em 1950, quando a indústria automobilística estava a todo o vapor, Detroit era a 5ᵃ maior cidade americana.

Quem também sofre com isto são os Tigers, time de beisebol que joga na MLB. A arrecadação do clube é cada vez menor devido ao público que comparece ao Comerica Park, uma das poucas importantes atrações do lugar. Na temporada 2011, em média 63% da capacidade do estádio está sendo preenchida por jogo, mas com os preços lá embaixo. Há carnês com ingressos para todas as 81 partidas em casa a partir de US$ 10/cada e o clube disponibilizou 12 mil lugares na arquibancada com entradas no valor de US$ 16 dólares ou menos.

Assim a franquia vai administrando as finanças e adaptando ao que a cidade oferece. A taxa de desemprego em Detroit é alta: 11.3% (média dos EUA é de 8.8%). A situação foi pior não só na época de maior crise na Grande Recessão; em Dezembro de 2010 a taxa era de 19.1%. Esta pequena melhora é sinais da recuperação das indústrias “mãe” da região, fôlego dado pelo governo Obama.


No auge da Grande Recessão, as três grandes fabricantes de carros dos EUA (General Motors – GM, Chrysler e Ford), todas situadas em Detroit, pediram um financiamento ao presidente para recuperar a produção e salvar a economia. Se nada fosse feito, segundo as empresas, uma reação em cadeia iria entrar em ação: a fábrica produziria menos, mais empregos seriam cortados, as pessoas deixariam de comprar carros, as lojas de auto peças sofreriam o baque, mais empregos seriam cortados, as pessoas deixariam de comprar qualquer coisa...

Obama abraçou a ideia e aceitou fazer o financiamento – dinheiro vindo dos impostos diversos que os americanos pagam diariamente. Muita polêmica criou-se em torno da aprovação do projeto no senado, mas acabou aprovado. A quantia de US$ 60 bilhões de dólares passou a estar disponível para as companhias e só a Ford não aderiu o projeto. Tanto GM e Chrysler teriam que passar por severas e rígidas mudanças estruturais para que o empréstimo fosse feito. Aceitaram e algum sinal de sobrevida é possível notar.

No primeiro trimestre de 2011, GM e Chrysler apresentaram lucro – a Ford também mostrou um balanço positivo e pela primeira vez desde 2005 que o trio fecha, em conjunto, um trimestre no azul. A GM anunciou que investirá nos próximos meses cerca de US$ 2 bilhões em 18 fábricas em todo país, gerando mais de 4 mil e 200 empregos diretos. A Chrysler já abriu 900 vagas em suas fábricas e criou um turno extra para contratar mais funcionários.

A equipe de Obama está num momento de resposta aos críticos (leia-se: oposição republicana) que desvalorizaram o plano de resgate financeiro estabelecido pelo governo. De certa forma é natural o protesto por ser dinheiro público investido, mas parcelas do empréstimo estão sendo pagas e o resultado do investimento está patente aos olhos. O interessante é relembrar que George W. Bush, republicano e antecessor de Barack, cedeu ao trio US$ 25 bilhões de dinheiro público antes de deixar a presidência em 2008 – este dinheiro ainda não foi devolvido.

Tinha que ser feito algo. Detroit agradece a atenção e luta para renascer. A Chrysler fez um comercial de um produto seu – o carro de luxo Chrysler 200 – e de tabela provocou um pensamento de ânimo e de reflexão. O slogan “Importado de Detroit” apresentado no final da propaganda é uma defesa aos fabricantes de carro dos EUA (Detroit) contra as marcas estrangeiras presentes no mercado do país: Honda, Volkswagen, Toyota, Audi, Mercedes...

Gastou muito para fazer o “mini filme”, entretanto já entrou para história. Fixa, se espera, uma época de transição da crise e registra palavras que fazem refletir. Nesta peça Eminem teve só uma frase no final, porém ele resolveu criar um vídeo para deixar sua visão do que acontece com a cidade que lhe entregou ao mundo.

Em “Letter to Detroit” (tr. Carta para Detroit), o rapper expressa seus sentimentos misturados com um discurso motivacional no tom exato do que a cidade precisa para seguir em frente: determinação.



Detroit / Há uma resiliência que surge de algum lugar de suas ruas / Não dá para definir, mas é possível sentir / Você pode sentir as pessoas que lhe chamam de casa se transbordar / De pessoas que sempre declaram ‘ sou de Detroit’ / Você tirou nosso país da infância para a indústria / E seu nome ainda carrega a ideia de uma nação construída com aço, músculo e suor / Você era a cidade que carregava o país / A cidade, como o esporte, construída sobre sonhos / Pessoas que vem até você inspiradas para sobressair / Sabendo que nada é alcançado sem trabalho duro, sem sacrifício / Quando você se machuca, nós também nos machucamos / Suas ruas testemunham nossa luta / Seus tijolos são nossa fúria através de cada casa vazia, cada fábrica fechada / Vivemos entre altos e baixos / Mas continuamos Detroit / Não podemos virar as costas pra você Detroit, porque nós somos você / Minha casa / A casa da Motown [gravadora], Cadillac [carro] e Joe Louis [boxeador] / Por tudo isso, não podemos ser derrotados, porque nunca perdemos / Você nos construiu, nos moveu, nos moldou / Às vezes triste, mas nunca desistimos / Pegue forças em nós, seu povo / Mantém-se de pé Detroit
(tradução livre do vídeo “Letter to Detroit”)



(GL)
Escrito por João da Paz


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Falíveis e letais, LeBron James e Dwyane Wade driblam a fama de ‘não-decisivos’


Normais? Sim.

Dentro da classe especial de super estrelas da NBA, LeBron James e Dwyane Wade são jogadores iguais a qualquer outro do seleto grupo, embora muitos os tratem diferente. A união dos amigos para jogar em Miami causou furor, inveja e elevou o nível de desempenho a níveis estratosféricos. Os dois últimos jogos da série contra o Boston Celtics, semifinais da Conferência Leste, serviram como respostas aos críticos que exageravam nas avaliações de ambos nos momentos decisivos dos jogos desta temporada.

As 58 vitórias do Heat não são levadas em consideração. O que se comenta são as possíveis vitórias que o time desperdiçou nos segundos finais e que este fato prejudicaria o grupo nos playoffs quando é necessário ter alguém finalizador. Tudo se iniciou com a derrota em casa do Miami contra o Orlando no dia 3 de Março. O Magic perdia por uma diferença de 24 pontos no terceiro quarto e conseguiu uma incrível sequencia de 40 pontos a 9 nos derradeiros 15 minutos para vencer a partida por 99 a 96. Surgiram então números que exibiam o que realmente aconteceu com a equipe ao longo do campeonato, mas não mostravam o que acontecia com as outras em iguais circunstâncias.

Os erros do Miami foram graves, mas outros elencos passaram pelo mesmo problema – só não receberam a mesma cobertura da imprensa. Dos mais de 15 fatídicos jogos em questão, se o Heat vencesse apenas 5 teria a melhor campanha da temporada em toda a NBA. Cada jogo em si teve uma peculiaridade e um deles exemplifica o assunto.

Contra os Bulls (em Chicago) no dia 15 de Janeiro, Miami não contou com LeBron que ficou de fora; Chris Bosh se machucou no final do terceiro período e não voltou. Chicago vencia por 3 pontos no começo do quarto período. Até dois minutos do fim os Bulls se mantiveram na liderança e Derrick Rose aumentou a diferença para 5 pontos (92 a 87) restando 1:39. Então Wade fez um arremesso de 3; Rose respondeu com um arremesso de média distância, sofreu a falta e converteu o lance livre. Wade fez outro arremesso de 3; Rose perdeu a bola. Wade fez outro arremesso de 3 a 37 segundos do término, colocando o Heat à frente (96 a 95). Rose erra um arremesso de 2 e na continuação da jogada a bola sobra para Kyle Korver que converte um chute de 3 selando a vitória do tricolor. Um arremesso livre dos Bulls deixou a diferença em três pontos e Wade tentou empatar a 2 segundos do fim. Não deu.

Este último arremesso é que foi levado em consideração na boba estatística do “último arremesso”. Porém houve muito mais do que um lance perdido no final... Entrar a fundo nesses números é perda de tempo, pois são irrisórios os momentos que isto acontece na NBA para criar um banco de dados sobre.

Quem se aventurou não repetiu a dose. A equipe do site 82games arriscou criar a seguinte estatística: “Oportunidades para ganhar um jogo em um arremesso” que por definição agrupava menos de 24 segundos para acabar o jogo e uma real chance de empatar ou ganhar a partida. O último levantamento feito foi em 2008 e juntava números das temporadas 2003-04 até 2007-08 – pegando um pedaço do campeonato de 2008-09.

A coleta dessas performances encerrou porque o aproveitamento geral dos jogadores era baixo: 28.9% e em poucas ocasiões; concretizando que não é tão simples converter uma cesta quando o resultado do jogo está pra ser resolvido. Por curiosidade, vale ressaltar que o líder em aproveitamento de arremessos foi o LeBron com 34% (Kobe Bryant teve 25%) – lembre que James entrou na associação em 2003.

Criaram outra estatística e ela é usada pela NBA. Clutch analisa os números dos jogadores nos últimos 5 minutos das partidas que tem uma diferença contra ou a favor de 5 pontos; inclui prorrogações. Dá para observar algumas nuances interessantes ao examinar a clutch. Veja como se saem os determinados jogadores aos olhos desta estatística (dados oficiais da NBA, temporada 2010-11):

- LeBron James
(Temporada Regular) 85% lance livre, 44% arremessos de quadra, 40% das jogadas passam por ele e seus erros diminuem
(Playoffs) 43% em chutes de média distância (4 de 7), 100% lance livre e 47% das jogadas passam por ele


- Dwyane Wade
(Temporada Regular) Excluindo a zona morta, converteu 5 de 11 arremessos de três pontos (46%) e 34% das jogadas passam por ele.
(Playoffs) Mantém a mesma proporção de jogadas que participa (34%)

- Derrick Rose
(Temporada Regular) 40% arremessos de quadra, os erros aumentam e 52% das jogadas passam por ele
(Playoffs) 50% arremessos de quadra – 9 de 6 no garrafão. 59,5% das jogadas passam por ele

- Kevin Durant
(Temporada Regular) 41% arremessos de quadra, os erros diminuem e 43% das jogadas passam por ele
(Playoffs) 50% arremessos de quadra, os erros aumentam, 35% das jogadas passam por ele e só não tem um bom aproveitamento embaixo da cesta

- Kobe Bryant
(Temporada Regular) 40% arremessos de quadra, os erros aumentam e 53% das jogadas passam por ele
(Playoffs) 25% arremessos de quadra, os erros aumentam e 54% das jogadas passam por ele

Interessante notar os números de Kobe... Ele, com toda razão e méritos, tem a fama de ser decisivo nos momentos finais dos jogos. Numa conversa com amigos faça a seguinte pergunta: Último arremesso, Kobe ou LeBron? A maioria vai responder Kobe. A revista Sports Illustraded publicou, na edição de 25/04/2011, uma pesquisa feita com 166 jogadores da NBA respondendo a pergunta: “Quem você prefere para converter um arremesso decisivo?” 74% escolheram Kobe – LeBron não aparece entre os Top 5.

Kobe, entre outros exemplos, tem a seu favor as recentes atuações fora de série da temporada 2009-10 quando marcou seis arremessos vitoriosos nos últimos 10 segundos em seis jogos distintos. O intrigante é que ninguém comenta que Kobe perdeu 96 arremessos no clutch entre 2008 e 2010...

Já com LeBron a lembrança vem dos erros. A estupenda performance na dupla prorrogação contra o Detroit Pistons em 2007 (Jogo 5 dos playoffs) quando marcou os últimos 25 pontos do Cleveland Cavaliers não passa perto de ser mencionada. Tanto James quanto Wade têm em seus currículos grandes jogos decisivos, da mesma forma que tem falhas. Entretanto eles não são os únicos; membros da classe especial de super estrelas também comentem graves equívocos em igual situação, isso é normal.

O jogo 4 e 5 da série destes playoffs contra o Boston Celtics serve de resposta aos que criticaram o Heat por não ter poder de finalização. No jogo 4, em Boston, o arremesso fatal veio a 2 segundos do fim do tempo normal. Os Celtics, a um minuto atrás, perdiam por 81 a 78. Delonte West e Ray Allen convertem dois arremessos de três seguidos e colocam o alviverde na frente (84 a 81). A torcida fica empolgada, grita, canta e incentiva o time. Aí LeBron, pressionado na lateral em frente ao banco de reservas dos Celtics pelo excelente defensor Paul Pierce faz isto (veja vídeo abaixo e perceba a reação de Pierce)



A partida foi pra prorrogação e o Heat venceu.

No jogo 5, Boston parou nos 87 pontos faltando 4:15 para o término do jogo – Miami tinha 81. O Heat marcou 16 pontos na sequencia e LeBron participou em 15 deles (marcou 10 – veja vídeo abaixo – , deu passe para um chute de três de James Jones e um passe para uma enterrada do Chris Bosh).



Certas atitudes do LeBron trazem argumentos contrários e causam animosidade. Ele sempre foi decisivo e seus erros são comuns.

Agora é a vez de criticar a exultante comemoração dele por chegar às finais da Conferência Leste.

E quem odeia faz o que sabe melhor.



(GL)
Escrito por João da Paz


© 1 Logo pertence a Rede Globo de Televisão
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© 3 Mike Ehrmann / Getty Images

Recessão Econômica e Cleveland: Testemunhas


Um garoto que entra no belo estádio Progressive (foto acima) para assistir um jogo do melhor time da Liga Americana (Cleveland Indians) pode estranhar ao olhar as arquibancadas vazias. Quando sai do campo e se direciona à sua casa, a criança percebe que a cidade tem poucas pessoas circulando e na mente dele vem pensamentos "talvez a maioria delas esteja nas residências vendo TV ou navegando na internet..."

Não. Esta é a hora que o pai do menino explica o que se passa.

Na parede do quarto e na sala há retratos do pai no estádio, mas com uma diferença: estava cheio! O contraste é gigantesco, pois hoje os Indians têm a pior média de público em toda a MLB (14.275, 32.9% da capacidade do estádio) e na época acontecia o oposto; por 455 jogos seguidos, de 1995 até 2001, o então Jacobs Field teve lotação máxima. A fraca economia local é o fator principal para justificar tamanha reviravolta. Os torcedores sumiram do estádio porque os moradores de Cleveland fugiram da cidade.

O censo americano de 2010 registra a grave queda da população local, uma das reduções mais drásticas em todo país. Só em comparação ao censo de 2009, os habitantes de Cleveland diminuíram 17%, atingindo a marca de 397 mil. Esta perda afeta todos os níveis da sociedade e um deles é o político; o estado de Ohio pode perder duas cadeiras no Congresso dos EUA e Cleveland deve perder representantes na assembléia estadual.

Isto prejudica muito. O grande debate que toma conta dos clevelanders é o orçamento do Estado de Ohio. Por a força política local ser fraca e a conjuntura não jogar a favor, Cleveland sai desfavorecida na divisão de verbas e setores vitais padecem revés: a educação sofre cortes em investimentos e as taxas/impostos aumentam. Nesta, dois pontos que merecem incentivos carecem de apoio e o futuro não aparenta ser brilhante.

Com taxas altas e impostos exorbitantes, como empresas vão ficar na cidade? Sem um bom ensino, como os jovens vão se formar com qualidade – ou melhor, como eles vão se formar em Cleveland? As indústrias e os estudantes vão para outros lugares onde existe uma oportunidade melhor e mais proveitosa.

Tudo leva a crer que tempos sombrios voltem a cercar a cidade. Um dia, porém, ela já foi pomposa e gozava de riqueza junto com as co-irmãs do “cinturão da manufatura”. A chamada indústria clássica perdeu seu espaço e Cleveland, mesmo recebendo elogios por tentar se manter forte, caiu na vala como as outras parceiras. A Grande Recessão de 2008 elevou o grau dos problemas e a debandada de pessoas encontrou mais uma justificativa.


Para o garoto é confuso entender uma mudança tão brusca. Ele lembra as histórias do avô e passa a ficar mais perplexo ainda. O senhor com idade avançada, mas com uma excelente memória, recorda o final da década de 40 e início dos anos 50 com muita alegria. Os Indians ostentavam o título da World Series de 1948 (foto acima), os Browns (NFL) dominavam e a cidade efervescia. Homens de negócios de todo os EUA colocavam Cleveland como um dos melhores lugares para trabalhar. Em 1949 a cidade recebeu pela primeira vez o título de “All-American City” e a população chegou ao topo histórico de 914 mil habitantes.

Pra variar, vieram os políticos e arruinaram tudo. Cleveland saiu-se bem da Grande Depressão, contudo péssimas administrações e más gestões a levaram ao buraco. A cidade, em 1978, pediu moratória (perdão de dívidas) – a primeira grande cidade americana a chegar a este nível desde a crise de 1929.

O resultado é a aparência de abandono que Cleveland mostra, uma áurea desértica. O centro da cidade é tão ultrapassado que estão em andamento quatro projetos para modernizar o lugar – será gasto cerca de 1 bilhão de dólares. Pode ser apenas uma maquiagem que esconde defeitos crassos, mas pelo menos algo está sendo feito.

A diretoria dos Indians também tenta modificar o atual cenário. No auge de popularidade (1995-2001), os torcedores com carnê de ingressos para toda temporada girava em torno dos 22 mil; para este campeonato 2011 são 7 mil e 700. O valor dos ingressos foi cortado em 16% comparando com 2010, segundo maior desconto em toda liga – mesmo assim o time permanece em último em média de público. As maiores baixas foram nos ingressos populares: das arquibancadas no outfield, de US$ 20 passou a US$ 10; e no setor mais alto atrás do home plate, de US$ 16 passou a US$ 8.

Hoje os Indians voltam a jogar em casa e defendem uma fantástica sequencia de 13 jogos invictos no Progressive Field. Serão 3 partidas contra o Tampa Bay Rays e 3 contra o Seattle Mariners. A diretoria irá pôr em prática diversas promoções para atrair o público e hoje (contra os Rays) será a seguinte: compre uma cerveja (Budweiser) e ganha outra de graça. Na quinta o jogo será às 12hs e a promoção será voltada a família para levar as crianças ao jogo e almoçar no estádio (US$ 15 um ingresso e ganha o mesmo valor pra ser gasto nas lanchonetes). No sábado (dia 14), contra os Mariners, será o “Dia da Fé”: quem tiver um ingresso pro jogo vai poder assistir o show da banda gospel Relient K na vizinha arena Quicken Loans; a apresentação começa assim que terminar a partida.

O atrativo dentro de campo importa, mas é preciso fazer outros agrados para chamar público. Os Indians têm um time jovem e competitivo, fruto das trocas de jogadores de renome que estavam no clube:


- Saiu CC Sabathia; veio Michael Brantley e Matt LaPorta
- Saiu Cliff Lee; veio Carlos Carrasco
- Saiu Victor Martinez; veio Justin Masterson (foto acima)
- Saiu Casey Blake, veio Carlos Santana

Poucas pessoas presenciam esta boa campanha do clube e apreciam a qualidade da equipe. O que interessa é saber que pelo menos há alguém para contar história e dizer no futuro que houve um excelente time de beisebol sediado numa cidade fantasma e que quase ninguém prestigiava.

Quase ninguém.



(GL)
Escrito por João da Paz



© 1 Jared Wickerhman / Getty Images
© 2 Cleveland Press Archive
© 3 Jeff Gross / Getty Images Images



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- Recessão Econômica e Cincinnati: Lembranças do Passado

Rejeitado na própria casa

A NBA está nas quartas-de-final e o Atlanta Hawks é o pior dos 8 times que estão na disputa pelo título. O duelo nas semifinais da Conferência Leste é contra a melhor equipe da associação na temporada regular, Chicago Bulls, campanha que rendeu ao tricolor mando de quadra em todas as rodadas dos playoffs.

Não vamos tão rápidos assim...

Com a vitória dos Bulls ontem a série está empatada em 1 a 1 e o mando de quadra agora pertence ao Atlanta que ganhou a primeira partida – nesta temporada o Chicago não perdeu dois jogos seguidos em casa. O responsável pela incrível façanha tem nome e sobrenome: Joe Johnson (foto acima), porém nem os fãs dos Hawks creditam na conta do jogador mais bem pago do elenco os méritos da conquista. Nem a imprensa faz o justo reconhecimento.

Está é a capa do maior jornal da cidade – Atlanta Journal-Constitution – de ontem. Uma pequena menção foi feita ao jogo da NBA e a modesta nota destacou o seguinte: “Inesperado heroi dos Hawks: armador Jeff Teague fala sobre seu jogo contra os Bulls”. A alusão vem pela ótima performance que o reserva, substituto do titular Kirk Hinrich, fez no jogo 1 marcando 21 pontos. Porém ele não foi o melhor jogador em quadra, só que o detentor desta honraria chame-se Joe Johnson; então...

Johnson foi decisivo nos minutos finais, anotou 34 pontos, converteu 5 arremessos de três dos 5 tentados e teve um aproveitamento de 66.7% nos arremessos de quadra. Mesmo sendo a única razão por seu time ainda estar vivo na competição e com chances reais de eliminar a equipe mais premiada da NBA, nem uma irrisória nota de rodapé é capaz de lembrar a importância do camisa 2.

Desde sua chegada à ATL na temporada 2005-06, certa desconfiança por parte da imprensa e fãs cercou Johnson. Os Hawks estavam construindo um grande e forte elenco do qual o SG é mais uma peça da engrenagem. Ninguém da diretoria pôs nele a cunha de “O homem”, “aquele que vai ser O cara”; ele também não fez isto porque sabe qual é a veras. Gradativamente o time foi crescendo e passou de 26 vitórias (05-06) a 53 vitórias (09-10). Johnson participou da evolução do clube e da entrada da franquia na elite da Conferência Leste.

A controvérsia nasce ao notar a enorme e exagerada cobrança em cima do SG que cinco vezes participou do Jogo das Estrelas. A condição que Johnson lida é essa: o time ganha, o grupo venceu; o time perde, culpa do Joe. Não existe ponto de vista contrário que persista ao tentar diminuir a importância da presença do armador, muito menos teses que almejam colocá-lo num lugar que não lhe faz jus.


No frenesi criado no meio do ano passado com a estupenda classe de agentes-livres disponíveis no mercado, o nome de Johnson estava ente eles. Na temporada anterior recusou uma renovação com os Hawks, uma extensão de US$ 60 milhões no contrato que estava em vigor. A negação indicava que o jogador iria testar sua cotação, ver quantos times da NBA estavam dispostos a contar com seu serviço (e de quebra entregar um pouco de amor). Numa primeira ação a diretoria do Atlanta o deixou analisar propostas, sabendo que a preferência de negociação estava com a franquia. Dois clubes mostraram grande interesse, Kincks e Bulls – mais o time de New York do treinador Mike D’Antoni, comandante de Johnson em Phoenix.

Os rumores foram aumentando e os homens de terno dos Hawks viam a saída do jogador devido às circunstâncias do passado. Ele não sentia recompensa do clube ao seu trabalho e entendia que a pressão exercida sobre ele era excessiva. Ao final da temporada regular 2009-10, Johnson era o quarto cestinha entre os SG com média de 21.3 PPJ, atrás de Monta Ellis (3°), Dwyane Wade (2°) e Kobe Bryant (1°).

Grande receio tomou conta dos Hawks em perdê-lo, assim uma proposta incomum foi feita: 119 milhões de dólares em 6 anos. Apesar de bastante surpreso pela alta oferta, claro que Johnson aceitou (quem recusaria receber cerca de US$ 20 milhões por ano?). Atlanta não tinha muita opção: ou entregava uma proposta acima da média ou perdia o jogador para um rival.

Escolheu a primeira e que Johnson administre as consequências...

Este contrato veio com uma benção e com uma maldição incorporada. O dinheiro vai deixá-lo, digamos, bem de vida, né? Mas qualquer atuação aquém das expectativas irá trazer críticas sem sentido. Johnson não vale o salário que ganha (recebe mais que Rudy Gay, Brandon Roy, Chris Paul, Deron Williams, LeBron James, Dwyane Wade,...), contudo lembre-se que não foi ele que exigiu “x” valor, os Hakws que ofereceram o gigante contrato e por não ser leviano, Johnson aceitou na hora.

Sua atuação não vai corresponder seu contracheque, tanto que sua temporada regular 2010-11 foi a pior com o uniforme dos Hawks: 18.3 PPJ e um baixo aproveitamento nos arremessos de três (29.7%). Em compensação a atual pós-temporada é sua melhor e se o Atlanta chegar às finais da Conferência pode ter certeza que a bola terá passado com frequência nas mãos de Johnson.

A força dos Hawks está no elenco. Mudou de treinador, negociou o armador titular (Mike Bibby - Heat), mas manteve o quarteto central da equipe (Johnson, Marvin Williams, Josh Smith e Al Horford, este que foi “All-Star” nesta temporada e também na anterior). O núcleo do grupo mantém o time entre os principais do Leste e Joe é um importante elo desta corrente.

Ele não é a super estrela como muitos querem que seja.

Nunca será.



(GL)
Escrito por João da Paz



© 1 por Zach Wolfe
© 2 Bill Baptist / Getty Images

Recessão Econômica e Cincinnati: Lembranças do Passado

A cidade sobrevive e passa por um processo de recuperação da crise financeira que abalou os EUA entre Dezembro de 2007 e Junho de 2009. O time de beisebol, os Reds, vem de uma temporada vitoriosa com o título da Divisão Central da Liga Nacional de 2010 e embora tenha aumentado seu valor, atravessa um momento turbulento agravado pela dificuldade que a população de Cincinnati enfrenta diariamente.

Na grande recessão do final da década passada, muitos moradores não conseguiram superar o baque ou simplesmente fugiram de algo pior. No último censo americano (2010), Cincinnati perdeu 10.4% da sua população e a franquia da MLB sofre com isto. Muitos foram para os estados vizinhos; a cidade faz divisa com Kentucky e fica próxima de Indiana. Existem nestes lugares fãs dos Reds, mas cada vez menos eles estão indo ao Great American Park, estádio do clube. Os ingressos têm preços acessíveis, o problema é o transporte.

O contingente maior de torcedores vai ao estádio de carro, porém a alta no preço dos combustíveis afasta o público. No último final de semana o preço médio do galão de gasolina (equivalente a quatro litros) chegou ao nível mais alto na história de Cincinnati: US$ 4.11. Hoje está por volta de US$ 4.09/galão, uma alta de US$ 1.27 em relação ao mesmo período do ano passado.

Além disto, há aquela reação em cadeia resultante do aumento da gasolina. O ponto forte que afeta as famílias é o alto custo dos alimentos que já é possível notar em mercados da região. Uma população que luta contra o desemprego, comprar um ingresso para assistir um jogo de beisebol não está nos primeiros planos.

Quando a Grande Recessão passou, Cincinnati computou 57 mil e 400 empregos perdidos, um declínio maior que a média de todo país (5.5% contra 5.3%). Depois da crise a cidade perdeu mais 4 mil e 700 empregos, um declínio maior que a média de todo país (0.4% contra 0.2%). O cenário de abandono das fábricas e indústrias trouxe á memória a viva frase de como aquela região é conhecida: "cinturão da ferrugem".

Nos tempos áureos, começo do século XX, o rótulo do local era “cinturão da manufatura”. Esta extensa divisão setorial junta cidades e estados que tinham como força produtora as indústrias clássicas: metalurgia, siderurgia, alimentícia, têxtil, petroquímica e mecânica – em Cincinnati predominavam a alimentícia e mecânica. Tudo mudou quando a Grande Depressão veio, época entre 1929 e 1940, período que o mundo passou por sérios problemas na economia, fruto da brusca queda das ações na Bolsa de Valores de New York em 4 de Setembro de 1929.

Cincinnati sofreu bastante, mas conseguiu superar o crítico momento durante mais tempo que outras cidades do cinturão por ter o Rio Ohio como limite de território com Kentucky. O transporte marítimo de cargas era mais barato que o rodoviário e as indústrias locais conseguiram produzir e vender seus respectivos produtos em escala razoável. Porém uma hora a situação ficaria irreversível e logo os grandes galpões ganharam a ferrugem como sinal do abandono e símbolo de um tempo abundante que se transformou em um grande vazio.


A cidade foi resistindo e aos poucos voltando à ativa. Hoje, 9 empresas na lista das 500 maiores dos EUA da revista Fortune CNN estão em Cincinnati, entre elas a Procter & Gamble (conglomerado de empresas alimentícias e de produtos de higiene e limpeza) e a Kroger (mega rede de supermercados).

Os Reds não desfrutaram de tanta sorte e no auge da grande depressão, em 1931, a franquia pediu falência. Um magnata das indústrias eletrônicas, Powel Crosley Jr., comprou o alvirrubro e manteve em atividade o clube de beisebol mais antigo dos EUA (desde 1866). Nove anos depois o time ganhou a World Series, segunda num total de 5 (1919, 40, 75, 76 e 90).

Segundo a avaliação anual da revista Forbes sobre as franquias mais valiosas da MLB, os Reds tiveram um acréscimo no valor do clube (US$ 370 milhões é o preço atual da franquia). Entretanto o time é o 23° entre os clubes mais valiosos da liga e só está na frente do Pittsburgh Pirates dentro da Divisão Central da LN. O sucesso de 2010 se concretizou apenas neste quesito e o restante permaneceu na mesma. Até que houve um aumento na procura de ingressos, mas 11.000 é o número total de torcedores que possuem carnê de entradas para toda temporada 2011 – o Great American Park tem capacidade para 43 mil pessoas.

O arrocho que a franquia passa não chegará ao extremo que aconteceu há 80 anos atrás, mas a semelhança entre diferentes épocas não é mera coincidência.


(GL)
Escrito por João da Paz