O assunto mais polêmico dos esportes americanos


Redskins.

O nome mais controverso dos esportes americanos enfrenta mais um baque. Não vai perder a batalha, mas o desgaste em volta do apelido do time de football de Virginia só reforça a opção sensata de trocá-lo.

Apesar de ter Washington no nome o clube não tem ligação direta com a capital americana – a sede fica no estado de Virginia (cidade de Ashburn) e a arena no estado de Maryland (Landover). O prefeito de Washington, Vincent Gray, disse em entrevista para jornal local no começo deste ano que se a franquia quiser se relocar para a cidade terá de mudar o nome; ele não quer associação com a marca “Peles Vermelhas” (tr. de Redskins).

Os nativos americanos repudiam esse termo e querem extingui-lo. A ação da vez, movida na última quinta (07), foi protocolada na Comitê Federal de Marcas Registradas, agência governamental do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. A reclamação é que o nome Redskins fere lei que proíbe registro de nomes depreciativos, escandalosos e de baixo conceito. Cinco pessoas pleitearam representando grupos de nativos americanos, porém eles precisam provar que o nome causou tais sentimentos de repulsa quando foi registrado, no começo da década de 70.

O triste dessa história é que a franquia teima em manter o apelido. O dono Dan Snyder defende Redskins e considera a marca como homenagem aos índios. Bruce Allen, diretor de football, classifica “Peles Vermelhas” como um termo de tradição para o clube. Pensando pelo lado marqueteiro e financeiro, não é interessante perder essa ligação com um passado de conquistas dentro de campo. Contudo é necessário pensar e andar na contemporaneidade, perceber o quanto é tolo sustentar elo com um termo preconceituoso e carregado de estereótipos.

Redskins é o caso mais emblemático, porém as grandes ligas americanas têm outros exemplos de apelidos de times com conotação indígena. Alguns mudaram, outros receberam autorização para usar. Sempre levando em consideração que um apelido de uma equipe não é apenas uma palavra solta qualquer. Expressa simbolicamente caráter e atributos daquele clube, daquela instituição.

Na NFL outra franquia tem ligações com nativos americanos, mas não com conotação pejorativa. Os Chiefs, representantes da cidade de Kansas, carregam esse nome com significado generalizado, de uma característica do grupo. Numa forma de amenizar contenda, retiraram de cena um cavalo de nome “War Paint” (Pintura de Guerra) que servia de mascote.

O Cleveland Indians da MLB sofre objeção devido ao símbolo do clube. O mascote Chief Wahoo é popular entre os fãs, contudo note (foto abaixo) os traços do desenho: pele vermelha, nariz grande, dentes como se fossem uma placa... Uma caricatura considerada inapropriada. O Atlanta Braves sofre protestos também. Brave, em si, não é ofensivo. Ao contrário do que acontece com o simbolismo embutido.

Golden State Warriors é o representante da NBA nesse tema.

O buchicho maior está no mundo da NCAA, onde ocorrem nomes de tribos específicas e universidades que alteraram nomes que lembravam nativos americanos. Tem os que trazem tribos: Florida State Seminoles, Univerisdade Alaska Nanooks, Central Michigan Chippewas e Utah Utes. E os que apresentam tribos + características gerais: Universidade Illinois Fighting Illini e North Dakota Fighting Sioux.

A Universidade Central Michigan recebeu autorização da tribo Chippeaw para usar seu nome. Além disso há um acordo com a universidade, que recebe um representante chippeaw para explicar semestralmente aos novatos o que é a tribo.

Outras universidades não atingiram mesma posição amigável e alteram seus respectivos mascotes. Universidade Marquette agora são Golden Eagles (antes eram Warriors); Dartmouth sempre foram Big Green, mas até os anos 70 usava um índio como mascote alternativo; Stanford agora é Cardinal (antes eram Indians); Eastern Michigan agora são Eagles (antes eram Hurons); St. John's agora são Red Storm (antes eram Redmen e tinha mascote que se vestia com roupas de nativos americanos).

O problema com Redskins é que o indefensível termo caiu na vala do comum. Isso pode ser observado nas palavras usadas por quem o defende. Para entender o quanto o nome é agressivo, imagina um time com um apelido de “Darkies” e um afro americano de mascote, ou “YellowSkins” com um asiático de mascote. Ou Washington Jews (Judeus), ou Brooklyn Niggers (Negros) - como sugeriu um colunista para novo apelido do Brooklyn Nets.

O protesto em curso não será ganho pelos nativos americanos pela dificuldade em provar o que a corte julgadora quer saber. Embora, no final das contas, não vai haver vencedores ou perdedores. Dan Snyder é quem está com a decisão, pois só ele pode determinar algo. Tendência óbvia de buscar seus interesses e do seu clube.

Acima dele está Roger Goodell, comissário da NFL. Porém no Super Bowl XLVII em New Orleans neste ano, na entrevista anual quando divulga balanço da liga, ele optou por uma atitude neutra, sem tomar partido:

Cresci em Washington e entendo a afinidade que o nome [Redskins] tem com seus fãs. Também entendo o outro lado da história. Acho que ninguém quer ofender ou se sentir ofendido. Isso vem sendo discutido há muito tempo e penso que Dan Snyder e a organização entende o que é melhor, que tem orgulho do nome tanto quanto os torcedores”.

A mídia especializada em NFL, incluindo de Washington e região, estão cada vez mais favoráveis à alteração. Goodell não quer intervir, pois cada franquia deve legislar internamente seus problemas. Nada do que uma conversa particular com Snyder não resolva. Vai ser difícil para os admiradores do time Washington Redskins, mas insistir nessa batalha só trará cicatrizes ao clube.

É o momento de agir com responsabilidade e seguir bons exemplos.


(GL)
Escrito por João da Paz
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2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, João!

É a primeira vez que comento no blog, mas sou um leitor assíduo do GL. Gosto do teu texto, apesar de nem sempre concordar com teu ponto de vista, mas sou fã do blog.
Quanto ao assunto do artigo, trocar o nome de uma franquia é algo que, particularmente, sempre fui contra. Sou um tanto conservador neste ponto. Não tenho nada contra trocar o logo dos mascotes (alguns, já que muitos são tradicionais), mas entendo que, no caso dos Redskins, a mudança pode acarretar, sim, em prejuízo no que diz respeito ao marketing da franquia.
Concordo contigo quanto aos termos de alguns nomes, e também no que diz respeito ao mascote do Cleveland Indians. Este, um tanto caricato demais se analisarmos o desenho e tu destacou bem isto.
Mas não acho que o nome Redskins, no caso do uso da franquia, seja pejorativo. Não achava, pelo menos até parar pra pensar no tal "Yellowskins" ou "Niggers". É realmente um assunto muito delicado para se debater.
Está certo o Goodell em se abster da discussão. Entendo que o mais correto seria fazer uma espécie de plebiscito com os fãs da franquia, ou então com a região onde se localiza a franquia, e conforme for a decisão, acatá-la.
Mas que não é um assunto fácil de se resolver, sabemos bem que não é mesmo.

Abraço, João!

Anônimo disse...

Olá João!
Em primeiro lugar, parabens pelo blog. To aqui sempre, apesar de, como o colega acima, nunca ter comentado antes.

Confesso que não conheço nem um pouco sobre a realidade americana de forma específica, então esse meu comentário será geral. Espero que entenda.

Mas o ponto é o seguinte: a "pejoratividade" está muito mais nos olhos de quem vê.

Começando com exemplos mais leves, sem envolver raças ou etnias, temos o "porco" como mascote do Palmeiras.
Eu poderia muito bem dizer que é um mascote pejorativo, pois coloca a equipe e a torcida como um animal que não é bem visto etc. Mas esse elemento aparentemente ruim foi adotado como auto-afirmação ("exemplo: aqui é porco mesmo, porra!!").

Por outro lado, tem os que envolve religião. Vários mascotes de clubes em diversos esportes é o próprio Diabo. Isso é forte, não? Mas ninguém vê com maus olhos (nem satanistas, nem cristãos). E, ao contrário, o do São Paulo Futebol Clube é um santo (apóstolo Paulo santificado), e nenhum devoto dele reclama de como sua imagem foi desenhada com todos os esteriotipos de um santo (barba, nuvem, gordo, sandália de couro etc).

Chegando na questão racial, mesmo que por um viés de cultura popular, o mascote do Inter é um saci. Na questão de nacionalidade, o do Vasco é um "portugues" com bigode, lápis na orelha e todos os esteriótipos possíveis. Nunca vi nenhum portugues reclamar disso...

O mascote do Guarani de Campinas é um índio. A representação gráfica dele deveria é que deveria causar a ira indígena. Primeiro, o mascote é branco e não possui qualquer traço de identidade física com os guaranis, e segundo possui uma expressão ridiculamente "tola".

Resumo da história: se um torcedor dos redskins disser "aqui é pele-vermelha, porra!!", isso é uma exaltação da etnia. Se os rivais responderem "hei, peles-vermelhas, vão tomar no...", aí é pejorativo. Nessa situação está óbvio.

Mas no caso da análise dos mascotes, simples representações gráficas, são nossos olhos e forma de pensar que determinarão a conclusão de que a figura se encaixa como exaltação ou como forma pejorativa...

é isso.

O mascote dos Indians, por exemplo. O pessoal acha muito caricato, mas um mascote é exatamente isso!

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