Aspectos sociológicos acerca de jogador gay na NFL


A Suprema Corte dos Estados Unidos analisou nesta semana a constitucionalidade da lei estadual da Califórnia (Proposition 8) que permite casamento legal somente entre homem e mulher. Também nesta semana o veterano jornalista Mike Freeman (CBSSports), com experiência de mais de 20 anos na NFL, publicou que nos próximos meses um jogador da liga vai assumir ser gay e tentará permanecer competindo. Mas será que o football está preparado para isso? A derrubada da lei californiana pode ajudar o tal atleta, o apoio que o Estado lhe proverá. E a sociedade americana, e a classe de jogadores da NFL, como irão reagir?

A aprovação da Proposition 8 é um indício de como a questão homossexual é polarizadora. Califórnia é tido por um estado liberal - bem liberal -, seja nesse tema ou em relação às drogas (maconha), por exemplo. A cidade de San Francisco, de acordo com pesquisa da American Community, tem a maior porcentagem de moradores gays, lésbicas e bissexuais em todo o país. No sistema federativo são os estados quem regularizam sobre esses assuntos e na eleição de 2008, em conjunto com a presidencial, foi apresentada a emenda para a constituição estadual estabelecendo que “apenas casamento entre um homem e uma mulher é válido ou reconhecido na Califórnia”. Foi aprovada por 52,4% dos eleitores que compareceram às urnas – o voto não é obrigatório nos EUA.

No mesmo pleito Barack Obama ganhou a presidência com uma campanha contrária ao casamento gay. Obama, no estado da Califórnia, recebeu 61,1% do votos. Momento de outro ponto de interrogação.

As consideradas Igrejas Negras (Black Churches) fizeram campanha ferrenha a favor da Proposition 8. Somada a isso tem a alta parcela de californianos que têm origem hispânica, logo enraizada no catolicismo, logo se inclinaram a favor da sua crença, logo... Uma sociedade de aparência liberal, mas alicerçada no conservadorismo é a que o jogador X encontrará quando assumir ser gay.

Manifestações preconceituosas contra gays aparecem aqui e ali na NFL. E oposto a isso existe a campanha para por fim na intolerância, lado mais forte e mais combatente. Dos que advogam pela causa, três jogadores se destacam e um é quem se apresenta com mais serenidade. Chris Kluwe, punter do Minnesota Vikings; Scott Fujita, agente livre sem clube; e Brandon Ayanbadejo, linebacker do Baltimore Ravens são os defensores públicos em prol do movimento gay. Ayanbadejo, atual campeão da NFL, usou o Super Bowl 2013 como palanque, reforçando seu apoio aos homossexuais. Ele é bem objetivo e discursa com argumentos bem concisos e convincentes.

Na última quarta ele concedeu entrevista para a ESPN Radio e comentou os casos aqui apresentados. Ayanbadejo definiu a questão com uma certeira frase: “Isso [casamento gay] é uma questão de direito civil, não de direitos LGBT [Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros]”. Como base ele lembra que antes “não podia” haver casamentos inter-raciais e que hoje isso foi superado. Salientou que o Governo não pode interferir na vida privada dos cidadãos e reforçou que nos Estados Unidos há separação entre Igreja e Estado.

Obama mudou de opinião e em entrevista, terça 26, para o canal por assinatura MSNBC disse que o casamento gay tem de ser permitido pelo Estado e que as pessoas precisam aceitar, mesmo que crenças religiosas digam o contrário. Assim, corroborando esse conceito, a Suprema Corte deve decidir contrário à Proposition 8; embora o veredito sai somente em Junho.

Pode ser o momento que o jogador X virá a público. Freeman não sabe quem ele é, mas suas fontes garantem que o processo está a caminho de ser finalizado. O maior medo do jogador é justamente o protesto das pessoas. Os boatos dão conta que não será qualquer jogador, tipo um reserva do reserva. Apontam que vai ser um acontecimento marcante no esporte, de fato.

Nenhum atleta na história das maiores ligas profissionais dos EUA assumiu ser gay e permaneceu atuando. Alguns fizeram na aposentadoria ou deixaram de jogar após o anúncio. O jogador X, para chegar na linha de frente e assumir o risco, necessita ter as seguintes características: ser bom; ser de uma franquia capaz de ajudá-lo nas relações públicas; ter companheiros e técnicos que o darão retaguarda; ser carismático e de bom relacionamento com a mídia. A palavra que Freeman usou foi tentar, que o jogador X vai tentar continuar competindo.

A coragem, na verdade, é a principal virtude do jogador X. Espero que não seja um blefe, que se torne real. O receio das insurgências é legítimo, porém não pode impedir quem quer assumir correr o risco de colocar a vestimenta do pioneirismo. Toda essa reação da possibilidade de haver um atleta gay na NFL em conjunto com a discussão na Suprema Corte serve como um teste para o jogador X sentir o que ele enfrentará.

As pesquisas sobre a população de gays nos EUA variam muito de amostra para amostra, mas gira em torno de 5% a 10%. A NFL tem mais de 1600 jogadores inscritos por temporada. E nenhum deles é homossexual? O constrangimento impede os que são de assumir. Note que no Combine [avaliação dos novatos que participarão do Draft] deste ano o tight end da Universidade do Colorado, Nick Kasa, teve que responder a pergunta: Você gosta de mulher? O linebacker da Universidade Notre Dame, Manti Te’O, envolvido num embaraçoso caso de namorada falsa, é bombardeado por questões similares, diretas ou indiretas. A informação de dentro dos bastidores da liga é que os diretores da franquia querem saber se ele é gay ou não.

Freeman apurou que o jogador X está tranquilo com a recepção dos seus companheiros de trabalho. Talvez não é uma boa ideia permanecer com essa tranquilidade. Entretanto nada deve impedi-lo de realizar um feito divisor de eras. O momento ideal é agora, por que esperar?

A falecida revista semanal Newsweek, em 2012, colocou na capa Obama com um arco-íris em cima da sua cabeça. A capa da revista Time desta semana traz duas versões: uma com duas mulheres se beijando, outra com dois homens fazendo o mesmo. Simbolismos úteis para explicar a história que se desenvolve em nosso tempo. O jogador X fará da sua ação mais um desses marcos.


(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 por Mark J Rebilas

A ilusão da lealdade e a crueldade da ingratidão


Quem nunca?

Quem nunca sentiu o sabor azedo da ingratidão? Gosto ruim, comumente distribuído. Por mais que seja uma das piores atitudes do ser humano, o não mostrar reconhecimento é popularmente praticado. Pior quando vem no kit uma cobrança ilógica por lealdade.

Esportistas são alvos fáceis dessas flechas. Basta mudar de time, uma opção trivial, que fãs órfãos proliferam que o “traíra” não foi “fiel” e pensou somente em interesses pessoais.

Quem nunca?

Desde quando querer o bem para si é ruim?

O que ocorreu com LeBron James após deixar Cleveland e ir para Miami está registrado no grandes ligas; as vaias infundadas dos torcedores dos Cavaliers, o bem estar do atleta... Nesta semana outros jogadores dos esportes americanos provaram um pouquinho de represálias com pitadas de insensatez. Uma lição óbvia que muitos custam a entender: esporte é um negócio; e negócios são apenas negócios.

O pivô do Los Angeles Lakers, Dwight Howard, fez seu primeiro jogo em Orlando, retorno a cidade que o acolheu por nove anos. Com três temporadas no currículo Howard levou o Magic ao título da Divisão Sudeste 2007-08, que a franquia não conquistava desde o campeonato de 1995-96. O clube passou a ser relevante dentro da Conferência Leste, ficando constantemente no topo da tabela de classificação. Conjunto de feitos que dava à franquia (e cidade) visibilidade, atenção da mídia e dinheiro de patrocinadores.

Howard era o Magic. Muitos movimentos foram realizados para reunir peças que junto com o pivô levariam a equipe ao título – chegou até às Finais de 2008-09. Não deu certo e uma reformulação precisava ser executada e Howard, dentro do seu direito legítimo e indiscutível, saiu. Escolheu ir para um clube maior, de mais tradição. Unindo forças com talentos top do basquete mundial (com um canadense com dois prêmios de MVP da NBA, um americano com um prêmio de MVP da NBA e um espanhol eleito pela FIBA o melhor jogador do campeonato Mundial de 2006).

Atualmente o Magic está no alto das suas 18 vitórias... e 48 derrotas. No encontro com o Los Angeles Lakers a cidade decidiu vaiar quem um dia tornou o time local em elite. Torcedores viajaram quilômetros para disparar impropérios contra o pivô; e eles estão no direito de protestar. Contudo mostram um traço ímpar do homem, uma característica triste: incapacidade de distribuir agradecimentos. A absurda campanha contra Howard em Orlando atingiu o ápice quando uma rádio fez um outdoor contando os dias, horas e minutos que Howard novamente deixaria Orlando.


Os moradores de Denver agiram de forma similar ao direcionarem ódio ao ala Carrmelo Anthony, hoje no New York Knicks. O time da “capital do mundo” foi até Denver e Melo pela primeira vez enfrentaria seu ex-time na altitude das montanhas. Porém os fãs dos Nuggets enfrentaram um obstáculo maior: o frio. Nada que impediram de se manifestarem fora e dentro do Pepsi Center contra o jogador que fez o time de Denver ser representante de um bom basquete apresentado na disputada Conferência Oeste.

Melo entrou nos Nuggets na temporada 2003-04 e prontamente contribuiu para o time ir aos playoffs, que não acontecia desde a temporada 1994-95. Três títulos de divisão (Noroeste) e uma passagem pelas finais de Conferência (2008-09). George Karl, atual treinador dos Nuggets e ex-professor de Anthony, respondeu positivamente sobre se a franquia deveria aposentar a camisa de Melo quando o jogador parar de jogar. Os torcedores podem até mudar de opinião com o passar dos anos, mas o que eles têm agora para Anthony são apenas sinais de revolta.

Na NFL a mistura água e óleo de lealdade com ingratidão aconteceu, sem surpresas, no atual campeão do Super Bowl. Baltimore Ravens é uma das mais exemplares organizações da liga, elogiada por administrar bem os negócios da franquia. Aqui o poder de decisão ficou a cargo do clube, que escolheu investir na peça correta e renovou com o quarterback Joe Flacco, numa soma exagerada de dólares. O resultado inevitável são cortes na folha de pagamento, e como negócios são negócios, ninguém é blindado.

Nem Anquan Boldin, nem Ed Reed.

Anquan Bodin, wide receiver, foi fundamental na campanha campeã dos Ravens na temporada passada, com destaque às atuações nos playoffs e na partida decisiva contra o San Francico 49ers. Boldin disse após o Super Bowl que permaneceria no time até o final da carreira. Mas os Ravens tinham outros planos. Boldin, para continuar em Baltimore, teria de aceitar um corte de US$ 6 milhões em seu contrato, dentro do plano de ajuste financeiro da diretoria. A recusa veio e o jogador foi trocado por uma escolha de 6ª rodada no draft de 2013. O time que recebe Boldin, sem o corte salarial, é o San Francisco 49ers.

Como que a lealdade e ingratidão atuaram nessa circunstância?

E no caso de Ed Reed? O safety, um dos melhores atletas a pisar num campo de football, é tido como a face dos Ravens. Ele, contudo, está na lista dos negociáveis e seu destino pode ser Houston para jogar pelos Texans. Numa entrevista para uma rádio local – CSN Houston – Reed opinou sobre sua situação:

Penso que, como organização, eles [Ravens] agem dentro dos seus termos. Caras derramam sangue, suor e lágrimas, se doam ao máximo e fazem o melhor. Quando vejo o que eles estão fazendo, analisando o aspecto de negócio, fico espantado”.

Estar no lado que recebe ingratidão é desagradável, assim como ser cobrado de lealdade quando não lhe dão um tratamento digno. Agora, e na situação na qual você faz tudo correto, se entrega e faz maravilhas pelo outro, e recebe um nada em troca? Ou quando recebe é 10% do esperado?

Infelizmente não é raro um comportamentos desse tipo. Infelizmente é algo que acostumamos a observar. E se o homem mais sábio que passou pelo planeta Terra passou por isso, passou para nos deixar um aprendizado.

Certa vez Jesus caminha com destino à Jerusalém. Pela estrada ouve 10 leprosos pedirem compaixão. O Mestre os ordenou a ir até os sacerdotes e todos foram purificados. Somente um deles foi ao encontro de Jesus para agradecer.

Então Jesus lhe perguntou:

“Não eram dez os que foram curados? Onde estão os nove?

Imagina a cena.


(GL)
Escrito por João da Paz

O assunto mais polêmico dos esportes americanos


Redskins.

O nome mais controverso dos esportes americanos enfrenta mais um baque. Não vai perder a batalha, mas o desgaste em volta do apelido do time de football de Virginia só reforça a opção sensata de trocá-lo.

Apesar de ter Washington no nome o clube não tem ligação direta com a capital americana – a sede fica no estado de Virginia (cidade de Ashburn) e a arena no estado de Maryland (Landover). O prefeito de Washington, Vincent Gray, disse em entrevista para jornal local no começo deste ano que se a franquia quiser se relocar para a cidade terá de mudar o nome; ele não quer associação com a marca “Peles Vermelhas” (tr. de Redskins).

Os nativos americanos repudiam esse termo e querem extingui-lo. A ação da vez, movida na última quinta (07), foi protocolada na Comitê Federal de Marcas Registradas, agência governamental do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. A reclamação é que o nome Redskins fere lei que proíbe registro de nomes depreciativos, escandalosos e de baixo conceito. Cinco pessoas pleitearam representando grupos de nativos americanos, porém eles precisam provar que o nome causou tais sentimentos de repulsa quando foi registrado, no começo da década de 70.

O triste dessa história é que a franquia teima em manter o apelido. O dono Dan Snyder defende Redskins e considera a marca como homenagem aos índios. Bruce Allen, diretor de football, classifica “Peles Vermelhas” como um termo de tradição para o clube. Pensando pelo lado marqueteiro e financeiro, não é interessante perder essa ligação com um passado de conquistas dentro de campo. Contudo é necessário pensar e andar na contemporaneidade, perceber o quanto é tolo sustentar elo com um termo preconceituoso e carregado de estereótipos.

Redskins é o caso mais emblemático, porém as grandes ligas americanas têm outros exemplos de apelidos de times com conotação indígena. Alguns mudaram, outros receberam autorização para usar. Sempre levando em consideração que um apelido de uma equipe não é apenas uma palavra solta qualquer. Expressa simbolicamente caráter e atributos daquele clube, daquela instituição.

Na NFL outra franquia tem ligações com nativos americanos, mas não com conotação pejorativa. Os Chiefs, representantes da cidade de Kansas, carregam esse nome com significado generalizado, de uma característica do grupo. Numa forma de amenizar contenda, retiraram de cena um cavalo de nome “War Paint” (Pintura de Guerra) que servia de mascote.

O Cleveland Indians da MLB sofre objeção devido ao símbolo do clube. O mascote Chief Wahoo é popular entre os fãs, contudo note (foto abaixo) os traços do desenho: pele vermelha, nariz grande, dentes como se fossem uma placa... Uma caricatura considerada inapropriada. O Atlanta Braves sofre protestos também. Brave, em si, não é ofensivo. Ao contrário do que acontece com o simbolismo embutido.

Golden State Warriors é o representante da NBA nesse tema.

O buchicho maior está no mundo da NCAA, onde ocorrem nomes de tribos específicas e universidades que alteraram nomes que lembravam nativos americanos. Tem os que trazem tribos: Florida State Seminoles, Univerisdade Alaska Nanooks, Central Michigan Chippewas e Utah Utes. E os que apresentam tribos + características gerais: Universidade Illinois Fighting Illini e North Dakota Fighting Sioux.

A Universidade Central Michigan recebeu autorização da tribo Chippeaw para usar seu nome. Além disso há um acordo com a universidade, que recebe um representante chippeaw para explicar semestralmente aos novatos o que é a tribo.

Outras universidades não atingiram mesma posição amigável e alteram seus respectivos mascotes. Universidade Marquette agora são Golden Eagles (antes eram Warriors); Dartmouth sempre foram Big Green, mas até os anos 70 usava um índio como mascote alternativo; Stanford agora é Cardinal (antes eram Indians); Eastern Michigan agora são Eagles (antes eram Hurons); St. John's agora são Red Storm (antes eram Redmen e tinha mascote que se vestia com roupas de nativos americanos).

O problema com Redskins é que o indefensível termo caiu na vala do comum. Isso pode ser observado nas palavras usadas por quem o defende. Para entender o quanto o nome é agressivo, imagina um time com um apelido de “Darkies” e um afro americano de mascote, ou “YellowSkins” com um asiático de mascote. Ou Washington Jews (Judeus), ou Brooklyn Niggers (Negros) - como sugeriu um colunista para novo apelido do Brooklyn Nets.

O protesto em curso não será ganho pelos nativos americanos pela dificuldade em provar o que a corte julgadora quer saber. Embora, no final das contas, não vai haver vencedores ou perdedores. Dan Snyder é quem está com a decisão, pois só ele pode determinar algo. Tendência óbvia de buscar seus interesses e do seu clube.

Acima dele está Roger Goodell, comissário da NFL. Porém no Super Bowl XLVII em New Orleans neste ano, na entrevista anual quando divulga balanço da liga, ele optou por uma atitude neutra, sem tomar partido:

Cresci em Washington e entendo a afinidade que o nome [Redskins] tem com seus fãs. Também entendo o outro lado da história. Acho que ninguém quer ofender ou se sentir ofendido. Isso vem sendo discutido há muito tempo e penso que Dan Snyder e a organização entende o que é melhor, que tem orgulho do nome tanto quanto os torcedores”.

A mídia especializada em NFL, incluindo de Washington e região, estão cada vez mais favoráveis à alteração. Goodell não quer intervir, pois cada franquia deve legislar internamente seus problemas. Nada do que uma conversa particular com Snyder não resolva. Vai ser difícil para os admiradores do time Washington Redskins, mas insistir nessa batalha só trará cicatrizes ao clube.

É o momento de agir com responsabilidade e seguir bons exemplos.


(GL)
Escrito por João da Paz
Todos logos aqui apresentados pertencem aos respectivos donos

A luta de um prefeito para manter franquia da NBA em sua cidade


Uma lúdica cesta de três nos segundo finais do tempo normal faz com que a cidade de Sacramento permaneça viva no duelo contra Seattle pela honra de ser sede de uma franquia da NBA.

Os Kings, até 28 de Fevereiro tinha um destino certo: o fim. Os direitos iriam para Seattle e a franquia Sonics voltaria à ativa. Mas o prefeito de Sacramento, Kevin Johnson, apresentou uma contraproposta neste 1º de Março, último dia permitido. As duas ofertas serão analisadas no meio de Abril (dia 18) no encontro dos diretores (governantes) dos 30 clubes da NBA.

Johnson batalhou muito para conseguir juntar investidores e montar um grupo que apresentasse uma proposta satisfatória para comprar a franquia Kings, que virtualmente está em posse de empresários de Seattle, após aquisição feita com os antigos donos Irmãos Maloofs, homens que trabalham com cassinos em Las Vegas: The Palms.

A inércia da administração Kings no âmbito esportivo não afeta Johnson, não está em sua alçada. Agora, o mínimo exigido ele está fazendo, buscando o melhor pra cidade e honrando suas origens. Natural de Sacramento, Johnson jogou 12 anos na NBA, participando de 3 Jogos das Estrelas. Ele usa as justificativas econômicas e emotivas para evitar que os Kings deixem o estado da Califórnia.

Os Kings são um dos piores times da liga (em quadra e fora dela). A troca recente da 5ª escolha do draft de 2012, Thomas Robinson, exemplifica bem isso. É necessário que o modo de ação nos bastidores mude para que a equipe seja ao menos competitiva. As falhas cometidas nas últimas temporadas pelos diretores de basquete não são mencionadas por Johnson. Sabiamente ele foge do assunto e foca no que pode de fato transformar.

Sem medir esforços, Johnson age com vigor no objetivo de prolongar a estadia dos Kings em Sacramento, morada há 28 anos depois de largar Kansas City. Em 2011 ele se movimentou e abafou a ameaça da ida dos Kings para a cidade de Anaheim, também na Califórnia. Esse combate vencido é base para motivar o atual que se trava. Porém agora são negócios de gente grande.

Duas pessoas lideram o grupo de Seattle que compraram 65% (US$ 341 milhões) da franquia, que tem valor estimado de US$ 525 milhões. Os ricaços são Chris Hansen (administrador de fundos de investimento) e Steve Ballmer (CEO da Microsoft). A favor de Seattle tem a construção de uma nova arena, com aprovação de financiamento público da ordem de US$ 200 milhões, corroborada pelos políticos da cidade. E, segundo informação publicada primeiramente no site Yahoo, o comitê da NBA vai “esmagadoramente aprovar a ida dos Kings para Seatlle”.

Mas Johnson tem outra informação interna que lhe ajuda. O comissário da NBA, David Stern, prometeu levar em consideração uma proposta concreta de Sacramento se exigências básicas forem cumpridas: uma contraproposta significativa e um projeto válido de nova arena.

A questão de ginásio novo é um grande problema se tiver má gerência. Uma das razões principais para Seattle perder a franquia da NBA e vê-la aterrissando em Oklahoma City foi não ter uma moderna arena a disposição. O detalhe é que a suposta nova arena que pretendem construir é para 2015; ou seja, teriam de jogar um campeonato completo na “velha” Key Arena.

Já Sacramento tem um plano mais imediato, inclusive apresentado para os Irmãos Maloofs, aprovado pela prefeitura, mas rejeitado pelos donos. Embora exista uma projeto avançado, o dinheiro público é alvo de calorosas discussões – o subsídio gira em torno dos US$ 225 milhões. O investidor privado, item exigido por Stern, é representado pelo bilionário Ron Burkle, que tem parte das ações do Pittsburgh Penguins, time de hockey.

Para a obtenção da franquia Johnson apresentou, em discurso na sede da prefeitura neste 28 de Fevereiro, o magnata Mark Mastrov como líder. Mastrov é o dono da academia 24 Hours Fitness, considerada a maior do mundo em membros matriculados. O problema é que ele não possui grana suficiente para chegar a marca de US$ 340 milhões, apontado por Johnson como valor seguro na retomada nas negociações. Então o prefeito de Sacramento angariou cerca de US$ 20 milhões doados por 20 pessoas (cada uma dando 1% do valor total), sinal de união e vontade de empresários e profissionais liberais locais nessa luta. Entre os 20 estão Mitch Richmond, estrela dos Kings na década de 90 (novato do ano em 1989) e Dale Carson, CEO da Sleep Train, gigante no mercado de colchões e que patrocina o atual ginásio. No mutirão há empresários dos ramos de aviação e telecomunicação, dois médicos, investidores anônimos e promotores de eventos.

A defesa do Sacramento Kings está bem fundamentada, apesar de transparecer o ponto fraco, aquele que é desperdiçar o fato de ser a única franquia de esporte profissional na região dos Estados Unidos que é o 20º mercado de mídia do país.

Stern comentou que uma das cidades vai ficar bem hashtag chatiada com a decisão que será tomada em Abril. Seattle tem uma história vencedora na NBA, mas a vida na elite não é abastecida de saudosismo ou conquistas passadas (Sonics foram campeões em 1979). Kings também tem um troféu da associação, ganho em 1952. Johnson quer usar o elo emotivo dos Kings com Sacramento. Vale o apelo, contudo o que interessa para Stern são os pontos principais aqui apresentados, que precisam resultar em rentabilidade e alta produção.

Johnson tem costume de repetir o que disse ao jornalista Antonio Gonzalez da agência Associated Press, espécie de slogan dessa sua campanha política/esportiva:

Seattle merece um time da NBA, mas não o nosso”.




(GL)
Escrito por João da Paz
© 1 Rich Pedroncelli / AP