Miami Heat em seu lugar apropriado


Respeito.

Quando o time do Miami Heat, atual campeão da NBA, visitou o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em janeiro deste ano, essa palavra os conectou.

“Ás vezes, parece que eles [Heat] ainda estão lutando por um pouco de respeito – eu me identifico com isso”, disse Obama em seu discurso, mostrando entender o que grandes nomes, mesmo realizando grandes feitos, não são reconhecidos como deveriam. Pelo contrário até, são desmoralizados e desvalorizados.

Nesta quinta, 5, começa as Finais da NBA temporada 2013-14 e será a quarta vez consecutiva que o Heat disputa o título. É um feito tão raro que apenas duas outras franquias conseguiram atingi-lo em 67 anos: Boston Celtics (duas vezes) e Los Angeles Lakers (uma vez).

A última vez que uma equipe chegou a esse status foi na década de 80. Os Lakers entre 1982 e 1985, e os Celtics entre 1984 e 1987. Ambas conseguiram dois títulos em suas respectivas sequências. Ambas têm trio de jogadores considerados lendas da NBA (Lakers: Magic Johnson, James Worthy e Kareem Abdul-Jabbar; Celtics: Larry Bird, Robert Parrish e Kevin McHale).

Porém, o senso comum questionará, caso o Heat seja derrotado pelo San Antonio Spurs em 2014, o papel na história da NBA do time e do trio LeBron James, Dwyane Wade e Chris Bosh.

O mínimo de dúvida beira o ridículo.

Somos testemunhas da história e tem os que não aproveitam para desfrutar e escolhem a murmuração e o ranger de dentes. É indissociável gostar de basquete e não admitir a grandeza das conquistas alcançadas pelo Heat em apenas quatro anos.

Note que é preciso voltar duas décadas e meia para ver que algo parecido aconteceu na NBA. A liga, que vive seu melhor momento, é cada vez mais competitiva e disputada no topo. Estrelas surgem, grandes times são formados e torna a mera repetição uma dificuldade imensa.

Agora, manter o mesmo nível elite por quatro anos seguidos, repetindo jogos em Finais? É formidável e merece mais do que destaque.

O Heat tem cumprido todas as expectativas autoimpostas. É muito tentador desviar o foco e se acomodar quando se consegue cumprir uma meta almejada. Com o Miami, além disso, há a sede de continuar e alta, de não esmorecer.

O que LeBron, Wade e Bosh conseguiram - a quarta final seguida – nem Michael Jordan, Kobe Bryant, Shaquille O’Neal ou mesmo Tim Duncan (estrela dos Spurs) obtiveram ao longo da carreira.

Nesse período de quatro temporadas, o Heat venceu 14 séries de playoffs de 15 disputadas (perdeu para o Dallas Mavericks nas Finais de 2011). Foram 10 jogos decisivos em casa, venceu todos eles. Foram três jogos número 7 disputados, venceu todos eles. Não foi páreo para nenhum concorrente da Conferência Leste nos playoffs, destroçando o Boston Celtics duas vezes, o Indiana Pacers três vezes e o Chicago Bulls duas vezes – fora eliminando novamente Paul Pierce e Kevin Garnett nesta pós-temporada, agora com o Brooklyn Nets, antes com os Celtics.

Não bastassem esses impressionantes números, outra estatística chama mais atenção por ser fundamental para o sucesso nos playoffs: o Heat tem ao menos uma vitória fora de casa em cada uma das séries de playoffs que disputou nos últimos quatro anos.

Esse sentimento que a imprensa (e fãs) apregoam contra os grandes times/grandes jogadores é curioso. O mundo dos esportes é recheado de casos que esses tipos não são apreciados. Só aumenta a conta deles quando não ligam para isso e buscam a cada dia provar que são dignos de estarem em lugares altos.

Ambos os títulos do Heat da era LeBron-Wade-Bosh são contestados. Inclusive é possível ler/ouvir que a última vitória nas Finais contra os Spurs foi produto da sorte...

Por mais que o Miami perca para San Antonio nestas Finais, o lugar do Heat entre os grandes times da história da NBA está assegurado. Assim como para o trio formado pelos seus principais jogadores.

Qualquer coisa diferente disso é estupidez e uma cegueira burra.

Similar ao que é feito com o técnico do Heat, Erik Spoelstra. É clichê diminuir o trabalho do treinador, em qualquer esporte coletivo, quando sua equipe é formada por atletas de talento. Dizem “com um time desse é fácil ganhar”. Não tem visão mais torpe, simplista e preguiçosa.

Na NBA, Mike Brown ganhou o troféu de melhor treinador na temporada 2008-09 (66 vitórias com o Cleveland Cavaliers em 82 jogos de temporada regular. LeBron James estava em Cleveland). Em 2012-13, Brown estava a frente dos Lakers com um dos quartetos mais incríveis colocados juntos no mesmo time: Steve Nash (duas vezes MVP), Kobe Bryant (MVP), Pau Gasol (MVP do Mundial de Basquete) e Dwight Howard (três vezes melhor defensor). Em oito jogos na pré-temporada, os Lakers perderam todos. Nos cinco primeiros jogos da temporada regular, foram quatro derrotas. Mike Brown foi demitido.

No futebol, já que estamos em clima de Copa do Mundo, temos dois exemplos interessantes com a Seleção brasileira.

Em 1970, o time do Brasil foi campeão e justamente o treinador Zagallo não ganha créditos, porque “com um time desse é fácil ganhar”. Havia cinco camisas 10 no time titular: Jairizinho (Botafogo), Gérson (São Paulo), Rivelino (Corinthians), Pelé (Santos) e Tostão (Cruzeiro). Levantaram a taça.

Na Copa de 2006, a seleção brasileira tinha tantos jogadores bons que o camisa 10 do Real Madrid era banco (Robinho). Mesmo assim, o ataque ganhou o apelido de quadrado mágico, com outros dois camisas 10 de grandes clubes europeus: Ronaldinho (Barcelona) e Adriano (Inter), com o complemento de Ronaldo, nada mais nada menos - Kaká vestia a 22 no Milan, mas é um típico camisa 10. Neste quarteto, perceba que tem três jogadores eleitos melhores do mundo: Ronaldinho, Kaká e Ronaldo. Com o treinador Parreira no comando, a Seleção não passou das quartas-de-final.

Com LeBron-Wade-Bosh, Spoelstra não apenas vence, mas domina as quadras da NBA com atuações consistentes.

Seja com o tricampeonato ou não, ele tem de receber respeito pelo seu trabalho como um dos grandes treinadores da NBA – enterrando de vez o rótulo de articulista de um time cheio de peladeiros.

Outra taça dará a Spoelstra o terceiro título em seis temporadas na associação. Assim sendo, igualará o que Pat Riley, seu tutor, treinador daquele Lakers da década de 80 e presidente do Heat, atingiu na mesma quantidade de campeonatos.

Riley é venerado.

Spoelstra, não?

Se não o tratam devidamente agora, não será mais um título que mudará o resultado da equação.

Obama, ao ganhar das mãos de Spoelstra um troféu simbólico da NBA, pôde sentir que o Heat e seus integrantes estão em busca de ideais similares.

Respeito.

(GL)
Escrito por João da Paz

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