O que diferencia um discurso motivacional energético do assédio moral?


Não importa com qual letra rotulam a geração de jovens adultos enraizados no virtual e entrelaçados em redes sociais online, fato é que estes são mais sentimentais dos de outrora. A correção paternal era severa, a tiração no pátio das escolas liberada e encarada sem problemas. Tornaram-se adultos mais calejados.

Hoje há lei que regula diretamente como pais devem educar seus filhos. A zoação virou grife com nome estrangeiro (bullying). Vão se tornar adultos mais fracos?

A Universidade de Charleston, estado americano da Carolina do Sul, iniciou investigação para descobrir se realmente o treinador da equipe masculina de basquete, Doug Wojcik (foto acima), cometeu agressões verbais contra os jogadores da equipe.

Segundo relatos do próprio elenco, que se reuniu com o comitê diretor da universidade na última segunda, 30 de junho, não houve por parte do técnico nenhum ataque físico, homofóbico ou racista. As acusações giram em torno do assédio moral, ofensas contra as personalidades dos atletas, humilhação e palavras pejorativas a cada um deles e seus familiares.

Logo vem à memória um caso mais grave que aconteceu na NCAA envolvendo também um treinador de basquete masculino. Porém, houve agressões físicas, registradas em vídeo, e ele, Mike Rice, da Universidade Rutgers (estado de New Jersey), foi demitido (saiba mais lendo “Jornalismo esportivo de impacto” no Observatório da Imprensa. Mostra como a ESPN foi decisiva na demissão de Rice).

Nesse caso atual da Universidade de Charleston só há palavras ríspidas e um discurso mais apaixonado do seu treinador. Há necessidade de punir Wojcik?

O comitê diretor da universidade discute só dar uma palmada (suspensão de um mês de salário e forçá-lo a ir em cursos de anger management). Contudo, o diretor de esportes de Charleston, Joe Hull, com quem os atletas conversaram, já queria dispensar Wojcik na segunda mesmo.

Os que são da velha escola criticam a decisão dos jogadores de Charleston por todo esse “choro”, dizem que estão ficando muito “frouxos”. Afinal, em outrora era apenas abaixar a cabeça e ouvir os impropérios calados (seja de pais, professores, treinadores...).

Agora é diferente. Uma postura agressiva e arrogante é vista como desnecessária. O xingamento, o grito, a brutalidade não são bem recebidos.

Na verdade, depende de cada um, do indivíduo. Tem os que reagem melhor a uma intervenção de choque, a uma provocação. Em contrapartida existem os que preferem uma aproximação suave, didática.

Podemos fazer uma relação com chefes que temos ou tivemos (ou com pais, professores, treinadores... que passaram – ou estão – em nossas vidas). Eu tive dois patrões ignorantes e trogloditas, daqueles bem ogros na hora de chamar a atenção, dar uma bronca. Com um eu resisti certo tempo, com o outro também, mas levou a desistência, porque cruzou a linha do comportamento rude ao assédio moral.

Quem vai dizer o que é o que? Só quem passa pela situação, só quem viveu. Logo, os jogadores de Charleston são os apropriados para testemunharem sobre o que aconteceu quando eles estavam com seu treinador em palestras e atividades.

Os defensores de Wojcik relatam que ele é nada mais do que respeitoso com seus atletas, que eles são como seus filhos. Pessoas próximas dizem maravilhas de Wojcik, mas tudo em questões fora de quadra.

Interessante. Pois esses chefes que citei são pessoas agradáveis quando não estão embaixo do stress laboral. São gentis, carinhosos, educados, agradáveis...

É a primeira vez que algo do tipo é relacionado com o trabalho de Wojcik, que há nove anos é treinador na NCAA. Durante sete temporadas treinou o time da Universidade de Tulsa e, além de ser o técnico mais vitorioso do programa, não recebeu nenhuma crítica sequer pelo seu comportamento por lá.

Em Charleston, com quem firmou um contrato de cinco temporadas (duas já cumpridas) – salário anual de US$ 400 mil –, começaram surgir as acusações.

O porquê talvez seja fácil entender.

Quando treinava Tulsa, Wojcik teve um início fácil e muitos dos atletas foram recrutados por ele direto das escolas de ensino médio (high school). Já em Charleston, a maioria do elenco foi escolhida pelo antigo treinador, Bobby Cremins, considerado um cara mais relaxado, leve, tranquilo.

Esse choque motivacional, uma mudança brusca de estilos, afetaram os jogadores. O discurso incentivador mudou de tom drasticamente, de um oposto ao outro. Aí cabe a universidade pesar e avalizar: são os atletas que estão mal acostumados ou o treinador que cruzou a linha do politicamente correto?

Se Wojcik sair desse problema e permanecer na universidade, como ele irá lidar com os jogadores que o denunciou? Eles vão querer jogar para Wojcik? Se a universidade demiti-lo, vai apenas ficar de bem com a opinião pública por se posicionar a favor da mansidão?

A Universidade de Charleston está numa posição comum aos seres humanos que tem de pensar bem ponderadamente ao responder a pergunta:

O que diferencia um discurso motivacional mais emotivo do assédio moral?

(GL)
Escrito por João da Paz

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