Para a NFL, usar maconha é mais grave que violência contra a mulher


Punição por usar drogas = 1 ano.

Punição por bater em mulher = 2 jogos.

Uma conta simples e lógica indica o absurdo. A NFL anunciou na última quinta, 24, que o jogador Ray Rice, do Baltimore Ravens, está suspenso por dois jogos na próxima temporada, em consequência de uma briga com sua então noiva, hoje mulher, Janay Palmer (ambos de mãos dadas, foto acima), em Fevereiro deste ano. Rice foi preso, assim como sua parceira, acusado de atacá-la. Ele não foi condenado pela justiça e evitará ficha suja se cumprir um programa de intervenção.

Somente neste ano dois atletas sofreram suspensões mais severas por uso de “substâncias proibidas” (maconha): Josh Gordon, um ano, e Justin Blackmon, tempo indeterminado.

Essa discrepância evidencia o problema que a NFL tem em julgar jogadores que descumprem o código de abuso de substâncias (Gordon e Blackmon) e o código de conduta pessoal (Rice). Em meio aos detalhes técnicos que ambas as cartilhas apresentam, a liga se coloca numa posição delicada frente a 45% do seu público, segundo levantamento do departamento de marketing da liga.

As mulheres cada vez mais têm adotado a NFL como esporte favorito. O instituto eMarketer, que fez um estudo em 2013 da audiência de jogos da NFL nos EUA, descobriu que 47% dos telespectadores são mulheres entre 25 e 44 anos. De olho neste mercado, a NFL tem adotado medidas de marketing direcionadas às mulheres, esperando ter um retorno financeiro que tanto almeja.

Porém a boa vontade aos poucos está desmoronando. A campanha Outubro Rosa, quando a NFL dedica o décimo mês do ano para contribuir com a luta contra o câncer de mama, não é mais reconhecida como um favor que a liga faz às mulheres, pois os negócios obscuros feitos com os produtos rosa ganham manchetes, acabando com o glamour do “gesto filantrópico” e expondo o marketing capitalista explícito.

Nessa equação há o mau trato das franquias contra as cheerleaders, algo que há anos é praticado, mas somente agora as moças estão entrando na justiça por direitos básicos (salário mínimo, por exemplo).

Dar a Rice uma suspensão de um ano serviria como exemplo. Contudo, a NFL seguiu o que faz corriqueiramente ao não agir com firmeza em casos de violência contra a mulher.

Greg Hardy (Carolina Panthers) e Daryl Washington (Arizona Cardinals) são os mais recentes nomes pegos em violência doméstica na NFL. O próprio Ravens tem um caso em sua história, quando em 2008 o cornerback Fabian Washington foi suspenso por uma mísera partida após se envolver em uma briga com sua mulher.

É necessário mudar os parâmetros. Não é mais tolerável uma repreensão tão sutil a um crime tão grave e um castigo tão implacável a uma violação leve (além de ser legal em dois estados dos EUA que são sedes de franquias da NFL, está na hora de a liga mudar sua postura contra a maconha).

Os códigos/cartilhas da NFL não andam de mãos dadas com o mundo judicial. Por ser uma instituição privada, a liga toma suas decisões com base em avaliações e julgamentos próprios. Ou seja, um jogador pode ser “condenado” mesmo que seja absolvido pela leia civil – e vice-versa.

O site TMZ divulgou vídeo de Rice arrastando Janay, que aparenta estar inconsciente naquela noite de Fevereiro. Informações divulgadas pela ESPN dão conta que Rice nocauteou Janay com um soco na cara. Por mais que não exista evidencia da agressão, a percepção do público é a de que Rice a violentou e passa – pode se dizer – impune por isso.

Janay decidiu manter o noivado e casar-se com Rice semanas após o incidente. O que ambos decidem e conversam não é de domínio público. Mas, mesmo que a NFL não tenha visto vídeo da agressão, por que a liga agiu com tanta cumplicidade? Qual vídeo que o comissário da NFL, Roger Goodell, precisa ver para que um jogador seja punido por agredir uma mulher? Imagina...

O futuro pode revelar o tal vídeo do golpe de Rice. Ou revelar que a razão de Janay estar inconsciente é a bebida alcoólica.

Independente disso, a oportunidade da NFL foi perdida. Poderia se posicionar contra qualquer tipo de ataque contra mulher, porém se tornou complacente.

Assim é que os fãs, homens ou mulheres, veem esse caso no presente momento.

(GL)
Escrito por João da Paz

Um comentário:

Anônimo disse...

Não podemos comparar uma suposta ´´agressão´´ com o uso de drogas. Usar substâncias proibidas podem melhorar o desempenho de um atleta e por isso a punição é justa. Todos nós sabemos que muitos atletas da NFL, são problemáticos. Provavelmente, muitos devem agredir suas esposas e ninguém fica sabendo, são racistas, homofóbicos, pedófilos, traficantes, etc. Se o caso do Ray Rice fosse tão grave assim, a moça não teria se casado com o dito cujo. Uma coisa é a legalidade (punição de 2 jogos), outra coisa é a moralidade (exclusão da liga, por exemplo). Wagner.

Postar um comentário